OS TRILOBITAS: UM ENIGMA DE COMPLEXIDADE
Arthur V. Chadwick
Tradução: Marcia Oliveira de Paula
O mundo atual está na crista da onda do aumento de informações na área de Biologia Molecular. As informações estão sendo geradas tão rapidamente que é impossível que os pesquisadores da área se mantenham atualizados com o fluxo de dados; assim, a interpretação fica atrasada em relação ao surgimento dos dados. Nossa compreensão das complexidades de estrutura e função dentro da célula é revolucionada mais e mais quando descobrimos novos detalhes dos processos celulares. Neste contexto, é uma tragédia particular que nós continuamos, cegamente, dogmatizando uma teoria fundamental da biologia que tem mais de 150 anos: a teoria da evolução.
É compreensível que Darwin e outros dos primeiros protagonistas da teoria da evolução não levassem em conta as dificuldades envolvidas na evolução de formas de vida complexas, quando quase nada se conhecia sobre elas. Este era o caso quando Darwin começou a formalizar sua versão de uma teoria para a evolução espontânea e não dirigida de formas de vida, na primeira metade do século 19. O mesmo aconteceu no século subsequente. Mas, durante os últimos 30 anos, o quadro tem sido mudado pelas ferramentas da sistemática molecular moderna, juntamente com os avanços em nossa compreensão dos processos celulares e moleculares em uma ampla variedade de organismos. Agora é impossível fazer comparações detalhadas dos aspectos moleculares de uma grande variedade de organismos e construir ligações filogenéticas entre estes organismos, baseando-se nestas comparações. Com estas poderosas ferramentas à disposição, não é mais necessário supor que tipos de processos operavam nos organismos extintos, que não estão mais à disposição para serem estudados. Muito da arquitetura molecular de tais formas pode ser reconstruída a partir de dados facilmente disponíveis para nós atualmente. As conclusões de tal trabalho são muito surpreendentes e compreendem o tópico desta apresentação.
Os trilobitas são membros extintos do filo Arthropoda, ao qual pertencem os insetos modernos. Estas criaturas deixaram um registro fóssil longo e detalhado nas rochas, começando no início do Cambriano e terminando no Permiano. Os trilobitas eram formas requintadas, que possuíram corpos segmentados elaborados, com sistema nervoso cefalizado, apêndices torácicos e abdominais articulados, antenas e olhos compostos. Devido ao fato de os trilobitas serem formas extintas, sabemos muito pouco sobre seus hábitos de vida, exceto pelo que podemos deduzir pela sua associação com outras formas que têm representantes vivos, e a partir também de reconstruções cuidadosas dos ambientes deposicionais nos quais eles são encontrados. Entretanto, a teoria da evolução fornece-nos um mecanismo para reconstruir, em detalhes inimagináveis, a fisiologia e a biologia molecular destes primeiros tipos de metazoários, amplamente distribuídos.
Esta reconstrução tem um grande significado em nos fornecer um quadro da riqueza e complexidade das primeiras criaturas metazoárias. Esta reconstrução também contribuirá substancialmente para nossa compreensão dos processos que teriam que ter precedido o aparecimento destas surpreendentes criaturas que, em quase todos os lugares, marcam os limites entre rochas essencialmente desprovidas de vida metazoária e aquelas rochas que contém evidência abundante de vida metazoária. Antes de começarmos a explorar a natureza dos trilobitas, deixe-nos lançar algumas bases fundamentais para as premissas que exploraremos em nossa reconstrução. Eu irei:
Origem das Células
Todos os seres vivos, incluindo os trilobitas, são compostos por células. A teoria da evolução propõe que estas células surgiram num passado distante, a partir de um ou mais sistemas viventes complexos, derivados por processos naturais de materiais presentes na terra pré-biótica. Estas proto-células primitivas se estabeleceram e, durante vastos períodos de tempo, desenvolveram sistemas complexos capazes de duplicação eficiente dos componentes necessários para a vida. Durante este período, os detalhes do código genético foram trabalhados, os sistemas de enzimas necessários para a duplicação do DNA foram aperfeiçoados, as enzimas necessárias para produzir RNA–mensageiros funcionais desenvolvidas, e a maquinaria para produzir proteínas a partir da informação contida no RNA–mensageiro foi estabelecida. Uma área de especulação atual é se este sistema moderno foi o primeiro a se desenvolver ou se um sistema mais simples, envolvendo apenas moléculas de RNA capazes de auto-duplicação e atividade catalítica, o precedeu. Esta última sugestão apareceu, em primeiro lugar, para oferecer uma solução para o dilema criado pelo requerimento do aparecimento simultâneo de proteínas e DNA para codificar para aquelas mesmas proteínas. Mas atualmente existe pouca evidência de que estas moléculas de RNA catalíticas ou "ribozimas" tenham um papel altamente significativo nas células modernas e permanece enigmático o problema da mudança de um sistema de ribozimas para um sistema de proteínas governadas por DNA. Apesar de a origem da vida não ser o assunto deste trabalho, vale a pena observar que este cenário, ou qualquer outro que explique a origem espontânea de uma célula viva, pertence ao campo da ficção científica. De qualquer forma, é muito evidente que, antes do início do Cambriano, os detalhes das células eucarióticas modernas, das quais os trilobitas eram compostos, estavam totalmente concluídos, como veremos.
Revelando o Passado
O que podemos saber sobre a biologia molecular, celular e fisiologia do trilobita? A premissa fundamental desta apresentação é que podemos determinar, em detalhes preciosos e requintados, os mecanismos que operavam nas células e tecidos dos trilobitas. Esta premissa está baseada em uma síntese fundamental da teoria da evolução: a de que características compartilhadas em comum por organismos distintos, a nível molecular ou celular, são devidos a ambos terem uma ancestralidade evolutiva comum. Esta suposição é amplamente aceita e envolve toda a teoria da evolução, sendo a base de toda a taxonomia evolutiva moderna. Apesar de algumas similaridades anatômicas serem consideradas exemplos de evolução convergente (derivadas independentemente e não relacionadas geneticamente), tais como as asas de insetos, répteis, aves e mamíferos, tais casos são facilmente identificáveis, e as similaridades que existem a nível celular e molecular são geralmente consideradas como indicadores de ancestralidade comum. Assim, as características moleculares compartilhadas pelas ervilhas e pelo homem(Fig. 1)requerem que tenha havido, em um passado longínquo, um ancestral comum a ambos, que possuísse estas características comuns. (árvore filogenética, segundo Wray et. al). Qualquer outra conclusão requereria que eventos altamente improváveis tivessem acontecido repetidamente, com exata precisão, e isto falsificaria a suposição fundamental da sistemática molecular e tributaria a credulidade além dos limites. Consequentemente, qualquer característica complexa compartilhada pelos artrópodes modernos e pelo homem(Fig. 2), ou pelos artrópodes e pela ervilha(Fig. 2b), deveria ter estado presente no ancestral comum a ambas as formas. Assim, a presença de características de biologia celular ou molecular em comum, entre os artrópodes modernos e o homem ou outras formas, requer que estas características sejam compartilhadas pelo ancestral comum de artrópodes e do homem. Como os trilobitas eram artrópodes, eles também devem ter apresentado estas características e então podemos, confiantemente, atribuir estas características complexas aos primeiros metazoários.
Vamos analisar alguns sistemas biológicos moleculares complexos, dentre um grande número potencial destes. Será necessário, naturalmente, incluir algum material de natureza bastante técnica, a fim de demonstrar o nível de complexidade presente nas células. Isto é inevitável, pois esta base é necessária para desenvolver os pontos importantes. Estes detalhes são bem conhecidos pelos biólogos moleculares, mas não é necessário ser um biólogo molecular, nem entender os detalhes da complexidade, para entender o significado dos argumentos. Vou começar com a consideração de alguns dos processos básicos compartilhados pelas células dos metazoários. Então iremos examinar algumas das complexas características dos organismos metazoários, incluindo os trilobitas.
Síntesis de Proteínas orientada:
Síntesis de proteínas é um assunto de inspirar admiração, mas um nós não devemos considerar aqui. Melhor ainda é considerar síntesis de proteínas como dado por um momento, vamos examinar como proteínas são designadas para chegar a seu correto destino na célula por direções contidas dentro de moléculas proteicas. Muitas proteínas funcionam dentro do citoplasma donde elas são produzidas. Estas proteínas provavelmente necessitam pouca informação para direcioná-las a localizações específicas. Mas um múmero grande de proteínas devem obrigatoriamente chegar a destinos específicos dentro ou fora da célula para serem capazes de funcionar. Por exemplo, algumas proteínas são designadas a funcionar dentro da membrana do retículo endoplasmático da célula. Outras devem obrigatoriamente ser secretadas para fora da célula, ou talvez na membrana mais externa ou interna da mitocôndria, o espaço intramembranoso, ou dentro da matrix mitocondrial. Direcionamento correto da proteína para cada um destas áreas de espaços diferentes requer instruções explícitas dentro da proteína marcada. No caso da mitocôndria, uma organela de uma célula responsável por conversão de energia guardade em ATP, existem quatro áreas de alvo distintas. Mesmo que a mitocôndria tenha seu próprio DNA e equipamento para síntesis de proteínas, a maioria das proteínas da mitocôndria são feitas de DNA contido no núcleo da célula. Estas proteínas são produzidas no citoplasma, e devem obrigatoriamente navegar de lá para dentro de um compartimento correto(Fig. 8) da mitocôndria. Os processos de direcionamento são complexos, e alguns dos detalhes estão ainda sendo elaborados, mas muitas das características são bem entendidas. Por exemplo, uma rota possível para uma proteína direcionada a matrix mitocondrial é ilustrada na Figure 9. Cada compartimento da mitocôndria é entregue por um tipo diferente de sinais e receptores sinalares, com o resultado que cada proteína chegue ao seu correto destino. Algumas proteínas devem permanecer obrigatoriamente dentro da membrana, do retículo endoplasmático, ou dentro da membrana celular mais externa, ou em outra membrana celular. Certo tipo de proteína desenvolve uma função vital na regulação da passagem de materiais através da membrana, e em outros processos celulares vitais. Para que a proteína seja produzida nesta configuração, o gene para sua produção deve obrigatoriamente conter, em adição a informação usual sobre como construir uma proteína funcional ativa, uma variedade de instruções informando a célula qual o destino e caminho que a proteína deve seguir. Um dos possíveis destinos para uma proteína é a membrana celular mais externa. Proteínas destinadas para este propósito começam com um plano especial de instruções chamado um sinal. Este sistema de sinais é reconhecido por um corpo citoplasmático especial chamado de partícula de reconhecimento de sinais(Fig. 10)(SRP). Esta partícula identifica uma mensagem em código nos primeiros 50 ou mais de aminoácidos das proteinas não citoplasmáticas a medida que elas são produzidas pelo ribossomo, e conecta com esta sequência de liderança, referrida como o sinal do peptídeo. Os passos subsequentes são detalhados em uma série de diagramas(Fig. 11).Moléculas como as de proteinas com canais de sódio com voltagems juntas discutidas abaixo devem ter sido obrigatoriamente codificadas dentro de todas elas com a informação para seus atributos funcionais e estruturais, e com a informação para adquirir suas funções ativas distribuídas através de todo o comprimento da molécula.
Este mecanismo de sinais é universal, desde que os processos operam no mesmo caminho virtualmente em todas as células eucarióticas. Em adição, as proteínas comprimem o translocon e o receptor SRP, que são responsáveis pela inserção de membranas direcionadas de proteínas dentro da membrana também são proteínas de membranas fechadas. Isto significa que elas também devem ser inseridas dentro da membrana por um mecanismo similar. A universalidade significa as proteínas e o mecanismo por suas aquisições por membranas os quais estavam bem antes presentes nos primeiros recordes de metazoa, e também na célula eucariótica ancestral.O que é necessário para a Divisão Celular?
Qualquer célula, antes que possa se dividir de uma maneira que mantenha a integridade do sistema, deve duplicar o seu conteúdo. A memória do núcleo, na forma de DNA, deve ser duplicada, de modo que existam na célula duas cópias equivalentes de todo o DNA. Estas duas cópias devem então ser separadas uma da outra, de tal modo que cada uma das células filhas fique com um conjunto de cópias. A célula também precisa fazer cópias de todas as outras moléculas que ela contém, para evitar a diluição dos conteúdos celulares pela divisão. Vamos evitar considerações da maior parte da complexidade da divisão celular, complexidade compartilhada por todos os organismos encarióticos, e vamos focalizar a nossa atenção em apenas alguns poucos pontos importantes. Enquanto exploramos estas complexidade, mantenha em mente que as células dos trilobitas se dividiam, e os processos envolvidos nos trilobitas podem ser estabelecidos claramente a partir de nossas suposições.
Transcrição: do DNA ao m-RNA
Antes do desenvolvimento das ferramentas e recursos dos últimos vinte anos, o processo de transcrição era considerado como sendo razoavelmente direto. A célula requerida uma nova proteína, a RNA polimerase (a enzima necessária para produzir o RNA), localizava o gene correto e produzir uma cópia na forma do RNA mensageiro (m-RNA). Assim, parecia que tudo que necessitávamos em nosso trilobita eram um DNA molde, um suprimento de nucleotídeos de RNA e uma enzima. Entretanto, o estudo cuidadoso do processo de formação do RNA mensageiro nas células eucarióticas revelou níveis inesperados de complexidade. Como a célula sabe quais dos milhões de genes presentes nos organismos eucarióticos são necessários? Como ela localiza os genes corretos? Como ela sabe precisamente onde começar a copiar? As respostas destas e de outras questões levaram ao desvendamento de um sistema de complexidade quase insondável, conhecido como o Complexo da RNA Polimerase.
Tradução: do m-RNA à Proteína
Como já temos uma mensagem, vamos tentar entender o próximo passo: a tradução. Este é o processo mais formidável de todos. As proteínas são constituídas por várias combinações de 20 subunidades diferentes, chamadas de aminoácidos. Proteínas celulares típicas possuem um comprimento de 100 a 500 aminoácidos. Muitas proteínas funcionam como catalisadores dos processos celulares e são muito específicas nos processos que elas controlam e em relação aos substratos com os quais elas interagem.
Até agora só mencionamos a transcrição do DNA, um processo no qual o substrato e os reagentes podem se reconhecer um ao outro através do pareamento de bases. Agora temos que capacitar uma série de combinações de três nucleotídeos para representar 20 aminoácidos, que não apresentam afinidade química algum com os respectivos conjuntos de nucleotídeos. Assim, necessita-se de uma molécula tradutora ou "adaptadora" que possa reconhecer, em uma de suas extremidades, o aminoácido ou associação de aminoácidos e, na outra extremidade, o códon de três nucleotídeos do RNA mensageiro. Estas moléculas adaptadoras, chamadas de RNAs transportadores (t-RNAs), contém um conjunto de nucleotídeos em uma extremidade, que são complementares ao códon de três nucleotídeos de um dado aminoácidos, além de outro sítio que reconhece uma das 20 ou mais enzimas específicas, chamadas aminoacil-t-RNA sintetases. Estas enzimas possuem um sítio que, de uma maneira precisa, identifica o t-RNA correto e outro sítio que reconhece o aminoácido correto. A enzima então liga o aminoácido apropriado ao t-RNA. Agora o t-RNA carregado pode ser usado pela célula para traduzir o código do mensageiro. Quando se produz um m-RNA que codifica para uma proteína que a célula precisa, inicia-se a síntese de proteínas. Este processo, em todos os sistemas vivos, requer a presença de um ribossomo, que é um complexo de proteínas e RNA ribossômico (r-RNA), envolvido na manufatura de proteínas. Nunca se conseguiu propor algum mecanismo viável para produzir proteínas específicas na ausência de um ribossomo; entretanto, os próprios ribossomos são formados por mais de 50 proteínas específicas diferentes, e diversas moléculas de r-RNA muito complexas. Como poderia ser possível produzir proteínas, de maneira reproduzível, na ausência de um ribossomo? Parece não haver alternativa alguma. O único mecanismo conhecido para a síntese de proteínas na célula é uma fábrica, a qual também é feita de proteína. Onde ela poderia ter se originado, se não havia mecanismo para síntese de proteína? Este é um enigma não desvendado. Os processos envolvidos na duplicação do DNA, na formação do m- RNA e na síntese de proteínas, os três processos mais fundamentais que qualquer célula deve realizar para ser considerada viva, são extremamente complexos, mesmo ao nível no qual nós os compreendemos agora.
Formação de uma Proteína Ativa
Até recentemente se supunha que a proteína, uma vez produzida, era capaz de se dobrar para atingir a conformação ativa e começar o seu papel funcional na célula. Tal modelo era apoiado pela evidência de que algumas proteínas, após serem desnaturadas, eram capazes de se dobrarem novamente, de forma espontânea, para atingir a conformação ativa. Entretanto, havia muitas proteínas que eram incapazes de restabelecer sua conformação nativa após serem desnaturadas. Que mecanismo possibilitava a produção destas proteínas em uma forma funcional dentro da célula? A resposta veio de uma forma não esperada. Em todas as células, eucariotas e procariotas, existia uma classe de proteínas cuja função, e mesmo existência, haviam sido passadas por alto. Estas proteínas, chamadas chaperoninas, consistiam de conjuntos de subunidades múltiplas, compreendendo anéis de subunidades empilhadas.
Estes elementos são responsáveis pela captura de proteínas nascentes, antes que elas tenham a chance de atingir uma conformação estável, e, com o auxilio do ATP, possibilitar que elas atinjam uma conformação estável em um ambiente protegido. Quando as proteínas são embaladas em sua conformação correta, são então liberadas para a matriz.
O Cromossomo Eucariota
A célula eucariota, que compreende as existentes em todos os organismos com os quais estamos familiarizados, incluindo o homem, carregam a grande quantidade de informação que possuem codificada na forma de longas moléculas de DNA (de menos de 1 cm até mais de 15 cm). Cada célula somática do corpo humano tem 46 destas moléculas. Todo o DNA de uma única célula humana atingiria aproximadamente dois metros, se o DNA das moléculas de todos os 46 cromossomos fossem colocados ponta a ponta. Este DNA está alojado dentro de um núcleo de aproximadamente 10 micrômetros. Assim, o comprimento do DNA no núcleo de uma única célula humana é 200.000 vezes maior que o raio do núcleo. Uma ilustração equivalente seria colocar 70 quilômetros de fio de pipa em uma caixa de sapatos! Como uma célula consegue fazer isto? Para que ela possa se dividir, precisa primeiramente duplicar totalmente cada cromossomo, produzindo aproximadamente 4 metros de DNA. Depois ela precisa dividir este DNA, precisamente, entre as duas células filhas resultantes. Para apressar este processo, o DNA está separado em cromossomos individuais(Fig. 3), cada um com aproximadamente 50 mm de DNA. Mas este valor é ainda 5.000 vezes maior que o núcleo(Fig. 4). Portanto, o DNA precisa se organizar de uma maneira muito precisa, para permitir que a célula tenha acesso aos genes necessários e, ao mesmo tempo, permitir que o DNA seja duplicado e dividido com precisão entre as células filhas, durante a divisão celular. Este processo é facilitado, no nível mais básico, pela associação do DNA com uma classe de proteínas denominadas histonas. Estas proteínas muito precisas existem em 5 formas diferentes, conhecidas como H1, H2a, H2b, H3 e H4. As histonas H1, H2a, H2b, H3 e H4, auxiliadas por outras proteínas associadas, formam um octâmero muito estável, contendo 2 cópias de cada molécula. Devido ao fato de todas as histonas terem carga positiva, para permitir que interajam com o DNA, que tem carga negativa, a montagem do octâmero requer a ajuda de diversas proteínas de apoio. A estrutura do grupo de histonas é tão fundamental para a célula eucariótica que ela é preservada através de todo o espectro de células eucariotas viventes, quase sem modificações. Por exemplo, existem apenas três mudanças de aminoácidos que distinguem a histona H3 da ervilha da do ouriço-do-mar ou do trilobita. A histona H4 humana difere da ervilha por apenas dois aminoácidos!
Uma volta e meia de uma molécula de DNA (aproximadamente 140 pares de bases) são então enrolados em torno de cada grupo de histonas, formando um nucleossoma. Os nuclessomas são associados em estruturas maiores pela ligação com a histona H1. Estas estruturas, denominadas solenóides, consistem em um arranjo de seis nucleossomas em uma hélice achatada, diminuindo assim a molécula como um todo. Estes solenóides helicoidais são então ancorado ao suporte principal do próprio cromossomo. O suporte principal é composto por uma classe de proteínas, do tipo topoisomerases, que apresentam propriedades extraordinárias. Estas topoisomerases (topo II) estão conectadas à molécula de DNA em sítios específicos. A enzima pode cortar uma das fitas da molécula de DNA no ponto de ligação, agarrar-se às extremidades cortadas, enquanto passa a fita inteira através das extremidades cortadas, ligando então as duas extremidades da fita cortada novamente! A estrutura resultante realizou o inescrutável: condensou uma molécula de DNA de 10 cm de comprimento em uma estrutura 50.000 vezes menor. Mas a complexidade apenas começou.
Cada célula humana tem 46 destas estruturas, que precisam ser duplicadas (92) e então corretamente separadas, de modo que cada célula filha receba um conjunto completo de 46 cromossomos. Noventa e dois corpúsculos separados estão se movendo no citoplasma, em uma viagem infalível para a célula filha correta. Os cromossomos contém um fragmento especial de proteína denominado cinetócoro. A ligação dos microtúbulos à região de ligação do cinetócoro, na cromatina, ocorre quando um microtúbulo, envolvido em uma série de empurrões produzidos pelo rápido alongamento, faz contato com o cinetócoro de uma cromátide e se liga a ele. Se o microtúbulo não fizer contato com o cinetócoro, ele se condensa e então é empurrado em uma direção diferente, até que ele se ligue a um cinetócoro. Quando um número suficiente de microtúbulos, vindos das extremidades opostas da célula, se ligaram aos dois cinetócoros de cada par de cromossomos, os microtúbulos começam a puxar em direções opostas, resultando no alinhamento equatorial dos cromossomos, tão familiar na metáfase. As duas cromátides se separam no centrômero e são puxadas através do citoplasma, até as extremidades opostas da célula em divisão. O mecanismo de movimento parece ser a contração, expansão e despolimerização dos microtúbulos, que puxam os cromossomos através do citoplasma na direção correta. Estes mecanismos estão presentes em todas as células eucariotas e o envolvimento dos microtúbulos e de proteínas semelhantes à actina e miosina no processo de divisão celular, ilumina a complexidade de um característica que precisa existir em todas as células eucarióticas, incluindo as dos trilobitas, os primeiros fósseis de metazoários registrados. Mantenha isto em mente enquanto exploramos uma característica adicional das células animais em particular: a transmissão do impulso nervoso.
A Sinapse
A célula nervosa ou neurônio em repouso tem um potencial elétrico de membrana de 60 milivolts negativo, no interior da célula. Este potencial é estabelecido por uma bomba especial de sódio/potássio, que utiliza a energia celular para bombear íons sódio positivamente carregados para fora da célula. O impulso nervosa é iniciado e propagado por um influxo de íons sódio para o interior da célula, através de canais de sódio, formados por uma proteína especial, e que se localizam na membrana celular. A propagação é mediada pela abertura sucessiva dos canais de sódio da membrana, ao longo de todo o axônio. Esta proteína passa através da membrana celular externa 24 vezes(Fig. 12). Para que esta proteína seja produzida com esta configuração, ela precisa interagir primeiramente, durante as primeiras fases da síntese, com um corpúsculo citoplasmástico especial denominado partícula de reconhecimento do sinal (SRP). Esta partícula reconhece os primeiros 50 aminoácidos de proteínas não citoplasmáticas, enquanto elas estão sendo produzidas pelo ribossomo, e se liga a esta seqüência–líder, conhecida como "peptídeo–sinal". O SRP ocupado então se liga a um receptor no retículo endoplasmático, ancorando o complexo m-RNA/ ribossomo/proteína nascente à membrana do retículo endoplasmático. A proteína receptora recruta então um conjunto de proteínas porinas especiais na membrana do retículo endoplasmático, formando um canal pelo qual a proteína nascente atravessa a membrana. Estas proteínas porinas também fixam o ribossomo à superfície da membrana, liberando o SRP do receptor de membrana. No caso das proteínas que formam os canais de íons, o sítio do peptídeo–sinal, chamado sítio do "sinal de ancoramento", vai um pouco mais além na molécula, e contém uma série de aminoácidos solúveis na membrana. Estes aminoácidos entram na membrana e param, ancorando a proteína no local. Este sítio é seguido por outra seqüência de aminoácidos conhecida como "seqüência âncora de membrana que pára a transferência". Estes aminoácidos também entram na membrana e param, formando um grampo com duas passagens pela membrana. Este é seguido por sítios de sinal de ancoramento sucessivos, alternados com sítios de parada de transferência, até que as 24 passagens estejam completas. Assim, a proteína não só deve ter codificada dentro dela a informação para os seus atributos funcionais, mas também deve ser codificada com a informação para adquirir o seu sítio ativo... e muitas informações para isto.
Estas proteínas apresentam uma construção verdadeiramente surpreendente, cruzando 24 vezes a membrana celular, e formando um canal que tem um portão operado por voltagem e um vigia contra o fluxo reverso(Fig. 13). Quando a despolarização do nervo é sentida pela proteína porina, o portão se abre e íons sódio fluem para dentro da célula, propagando a mudança de potencial e provocando a mesma resposta nos póros adjacentes. Quando a membrana fica completamente despolarizada, um segmento bloqueador especial tampa o canal, evitando mais despolarização, até que o potencial de membrana em repouso tenha sido restabelecido pela bomba de íons sódio. Quando o impulso nervoso atinge a extremidade de um nervo, ele precisa passar o sinal através de um espaço para a próxima célula nervosa. A junção das duas células é chamada sinapse(Fig. 14), e o espaço separando as duas células de fenda sináptica.
Em muitas células, a transmissão do impulso nervoso é mediada pela liberação de uma substância neurotransmissora, geralmente a acetilcolina, que é uma molécula pequena. A acetilcolina é acumulada em vesículas membranosas citoplasmáticas, onde uma proteína "antiport" de íons hidrogênio troca a acetilcolina, produzida no citoplasma da célula, por íons hidrogênio, que são bombeados para dentro da vesícula às custas de energia obtida por hidrólise do ATP. A vesícula é então transportada pelo citoplasma através de microtúbulos do citoesqueleto até a membrana da superfície sináptica.(Fig. 15) Este processo é surpreendente por si mesmo, porque moléculas do tipo quinesina simplesmente andam sobre os elementos do citoesqueleto de uma maneira bastante antropomórfica, carregando a vesícula sináptica com elas.
Na membrana da vesícula existem algumas proteínas singulares, que não são encontradas em nenhum outro lugar de membrana celular. Entre elas estão a sinaptobrevina e a sinaptotagmina. A sinaptobrevina se liga a um complexo de proteínas chamado NSF (Fator Sensível à N-etilmaleimida) e SNAPs (proteínas associadas ao NSF solúvel). Este complexo se liga à sintaxina, uma proteína encontrada apenas na membrana plasmática, na região da sinapse, ancorando assim a vesícula na membrana. A sinaptotagmina, a outra proteína vesicular mencionada, tem dois sítios de ligação para íons Ca++ do seu lado citoplasmático. Na ausência de Ca++, a sinaptotagmina se liga ao complexo sinaptobrevina– sintaxina–NSF–SNAP e impede a ligação da alfa SNAP, a proteína de fusão. Quando o impulso nervoso chega na região da sinapse, abrem-se os canais de cálcio, permitindo a entrada de Ca++ no citoplasma. A sinaptotagmina se liga ao cálcio e então a alfa SNAP pode se ligar ao complexo. Como conseqüência, a membrana da vesícula se funde com a membrana celular, por um mecanismo ainda não bem compreendido, expelindo o conteúdo da vesícula na sinapse, e provocando a resposta da célula vizinha.
Outras proteínas que também estão envolvidas na separação e dispersão das vesículas citoplasmáticas são as proteínas Rab, que constituem o sistema UPS da célula. Estas proteínas se ligam a todas as vesículas no citoplasma, funcionando como "rótulos de expedição", para especificar o seu destino final. Quando elas chegam ao seu destino, o "rótulo de expedição" é lido e, se o destino é aquele especificado, permite-se que as vesículas se fundam e compartilhem os seus conteúdos com a organela receptora. Se o rótulo especifica algum outro destino, o acesso da vesícula à organela é recusado.
Enquanto isso, uma proteína citoplasmática denominada claterina identifica a vesícula vazia e a cerca com uma gaiola hexamérica, que preserva a membrana e evita que as proteínas associadas sejam perdidas. A gaiola de claterina permanece unida à vesícula até que esta possa se reunir com o seu endossoma hospedeiro no citoplasma, para se encher novamente. Este processo, que eu descrevi de maneira bastante simplificada, é comum em todos os animais que possuem sistema nervoso, dos mais simples invertebrados ao homem. Devido ao fato deste processo representar um mecanismo muito complexo, compartilhado por insetos e homens, podemos estar absolutamente confiantes de que ele existia também nos trilobitas.
A Biologia do Desenvolvimento dos Trilobitas
O que podemos dizer sobre as vias metabólicas complicadas pelas quais um simples óvulo, no ovário de uma mãe trilobita, se transforma num descendente viável? Muito mais do que você poderia imaginar, graças aos avanços recentes em nossa compreensão da biologia molecular do desenvolvimento. Aqui eu só poderei dar um esboço dos detalhes. Deixe-me rapidamente contar um pouco sobre como um inseto é formado. Aqui nós vamos discutir sobre a mosca das frutas, Drosophila, que é um inseto que sofre metamorfose. Como estes insetos são bastante pequenos, não seria prática a eclosão de um descendente com asas, completamente funcionais, a partir de um óvulo fertilizado. A estratégia de muitos insetos é colocar um ovo, o qual "eclode" originando um ovo maior, chamado de larva. A larva é apenas um saco para acumular material alimentar, na preparação para a produção da forma adulta. Entretanto, nos recônditos mais profundos de cada larva, estão as sementes embrionárias de um organismo adulto. Denominados "discos imaginários", estes tecidos especializados permanecem dormentes até a formação da pupa. Neste momento a larva se dissolve e os discos imaginários se transformam nas várias partes do adulto. Este é um processo surpreendente por si só, mas a seqüência de eventos que levam à formação dos discos imaginários oferece uma visão sem precedentes do processo de desenvolvimento, que nos será de grande interesse em nossa consideração sobre o trilobita.
Enquanto o ovo ainda está dentro do ovário, são estabelecidos gradientes específicos de produtos gênicos reguladores dentro do ovo. Estes m-RNAs ou proteínas se originam do próprio núcleo do ovo ou de células maternas acessórias que rodeiam o ovo no ovário. Após a fertilização, são ativadas séries adicionais de genes, produzindo proteínas reguladoras adicionais, em regiões específicas do ovo fertilizado. Esta distribuição assimétrica de proteínas reguladoras resulta em cada célula tendo uma combinação única de reguladores. O balanço desses genes reguladores determina quais genes são ativados e quais são suprimidos em cada célula, e esta assimetria, por sua vez, determina cabeça e cauda, e diferenciação ao longo dos eixos do corpo resultantes.
Este sistema de desenvolvimento é fantasticamente complexo. Estudos genéticos em Drosophila revelaram uma classe de genes do desenvolvimento que, quando sofriam mutação, resultavam não apenas em uma única alteração, tal como a cor do olho, mas produziam efeitos em massa que eram letais, ou resultavam em mudanças monstruosas na forma do corpo. Por exemplo, uma única mutação gênica em um dos genes reguladores resultou no crescimento de pernas no local onde se encontram normalmente as antenas, ou na formação de um segmento extra no corpo, com um par extra de asas. Vastas redes reguladoras ligam cada um desses genes do desenvolvimento a centenas de outros genes. Para seu assombro, investigadores descobriram que os genes que estavam controlando o desenvolvimento das moscas das frutas e os genes que controlam o desenvolvimento dos vertebrados, incluindo camundongos e homens, tinham estrutura muito semelhante e freqüentemente controlavam partes análogas dos embriões das moscas e do homem. E assim, estas seqüências de genes do desenvolvimento, presentes nas moscas e no homem, também estavam presentes nos trilobitas.
Estudos subsequentes revelavam a localização de alguns destes genes no cromossomo. Quando se identificou e mapeou a série principal de genes reguladores que determina a polaridade do embrião de Drosophila (genes HOM-C), os investigadores descobriam um fato surpreendente, um fato que eles não esperavam e não estavam preparados para lidar com ele quando o encontraram: os genes que controlavam o desenvolvimento do eixo do embrião, da cabeça à cauda, estavam localizados no cromossomo na mesma ordem que a das porções da anatomia do organismo cujo desenvolvimento eles controlavam (colinearidade). Isto é inesperado por muitas razões, sendo uma delas a improbabilidade de tal arranjo ocorrer na ausência de um projetista. Alguns anos atrás, Murry Eden, um matemático do M.I.T., demonstrou a improbabilidade de se obter genes com uma seqüência específica no cromossomo. Parece não haver nenhuma razão funcional para estes genes estarem tão organizados, apesar de que este quadro pode mudar. Mas este não era o fato mais assombroso. Estudos subsequentes em vertebrados (principalmente nos camundongos, mas também no homem) mostraram que tipos semelhantes de proteínas reguladoras eram responsáveis pelo ordenamento da organização da cabeça até a cauda do corpo dos vertebrados, incluindo o homem. E estes genes (chamados de genes Hox), que eram muito semelhantes aos genes equivalentes na Drosophila (em alguns genes homeóticos, a similaridade entre Drosophila e o homem é de 98%) estão localizados no cromossomo na mesma ordem que a das moscas das frutas! Eles devem ter tido uma origem comum! E eles deviam estar presentes no trilobita, a primeira forma metazoária do cambriano. Assim, nas primeiras formas, não só estavam presentes todas as complexidades da célula eucariota, mas também estava operando todas a complexidade insondável do sistema de desenvolvimento, envolvendo a interação de milhares de genes, que todas as formas cefalizadas parecem ter em comum.
O Olho do Trilobita
O olho tem sido um objeto de assombro durante toda a história registrada, devido às suas funções críticas. Certamente a existência de olhos compostos e completamente funcionais nos primeiros metazoários tem feito com que, de quando em quando, evolucionistas pensantes questionem seriamente sobre a base de sua origem. No caso dos trilobitas, não só as primeiras formas a aparecem estavam equipadas com órgãos visuais altamente organizados, mas algumas das propriedades recentemente descobertas dos olhos dos trilobitas representam uma "proeza em otimização de função". Os olhos dos trilobitas, a partir do que podemos concluir pelo estudo das formas fósseis, têm muito em comum com os olhos dos insetos modernos. Certos trilobitas de meados do Paleozóico têm um sistema ótico único, desconhecido em qualquer outra criatura. O físico nuclear Levi-Setti (Diretor do Fermilab da Universidade de Chicago), que é aficcionado por trilobitas, afirma com franqueza impertubável:
"E uma descoberta final – a de que a interface refratora entre os dois elementos das lentes do olho do trilobita foi projetada [ênfase adicionada] de acordo com as construções óticas elaboradas por Descartes e Huygens em meados do século dezessete – toca as raias da pura ficção científica".
Os eixos dos omatídeos individuais foram construídos a partir de cristais únicos de calcita, sendo o eixo ótico do cristal coincidente com o eixo ótico do elemento do olho. Isso representa um problema extraordinário para o trilobita, já que uma simples lente esférica e grossa de calcita não poderia decompor a luz em uma imagem. O elemento ótico do trilobita é uma lente composta, constituída por duas lentes com diferentes índices de refração, unidas em uma superfície de Huygens. Para que tal olho focalize a luz corretamente nos receptores, ele teria que ter exatamente esta forma de lente. Os princípios óticos requeridos foram elaborados pela primeira vez por Huygens no século dezessete, mas as lentes dos trilobitas funcionavam perfeitamente, usando estes princípios óticos, muito antes desse matemático holandês entender como. Os primeiros trilobitas não tinham estas lentes sofisticadas, mas os seus olhos eram, aparentemente, mais semelhantes aos dos insetos modernos. Porém, não se conhecem formas intermediárias no registro fóssil. Quando a lente de Huygens apareceu pela primeira vez, ela era completamente funcional.
O mecanismo regulador do desenvolvimento do olho deve realmente ser complexo. Estima-se que 2.500 a 5.000 genes estão envolvidos no processo de desenvolvimento. Alguns dos detalhes do desenvolvimento estão sendo solucionados em Drosophila, onde alguns dos genes de ligação mestres são conhecidos. Cada faceta individual ou omatídeo de um olho composto, tal como o da Drosophila, consiste de um grupo de oito células, sete das quais se desenvolverão em receptores de luz. Descobriu-se que uma dessas células retinais, chamada R7, era responsável pela detecção da luz ultra-violeta. A via do desenvolvimento da R7 tem sido assunto de uma intensa investigação por muitos anos. Ela revelou uma cascata de interações que parece representar a maioria das vias de ligação externa das células. A membrana da célula R7 contém uma proteína especial, o receptor da tirosina quinase (RTK). Esta proteína possui um sítio receptor extracelular, uma região transmembrana e uma região enzimática intracelular. Quando algum ligante externo se liga ao receptor (neste caso é o ligante de membrana da oitava célula), a molécula se une com outro RTK, formando um dímero. As duas moléculas então se empenham na fosforilação recíproca de três resíduos específicos de tirosina, cada um na outra molécula. Assim fosforilada, a região citosólica pode se ligar a uma proteína citoplasmática específica (GRB2) que reconhece o RTK fosforilado. Quando a GRB2 se liga ao RTK, este pode então se ligar a uma terceira proteína, Sos. O complexo Sos faz com que a proteína associada à membrana, Ras, perca GDP, que é então substituído por GTP. Nesta condição, a proteína Ras se liga à proteína chamada Raf, uma quinase da treonina/serina. Quando ligada ao Ras ativado, Raf é capaz de ligar e fosforilar outra quinase específica da tirosina/treonina, a MEK, ativando-a. MEK por sua vez ativa uma enzima citoplasmática, a MAP quinase, através da fosforilação dos resíduos de tirosina e treonina nesta enzima. A MAP quinase está aparentemente envolvida na fosforilação das proteínas de ligação ao DNA e outras proteínas celulares chave, que resultam na mudança da direção da diferenciação celular, de tal modo que tal célula agora se transformará numa R7 normal. O que é especialmente digno de nota nesta cascata, é que ela é encontrada em todas as células de organismos eucariotas multicelulares, e, com pequenas alterações, também nos eucariotas unicelulares ( leveduras e protozoários).
Recentemente, como resultado da manipulação de um gene mestre do desenvolvimento, o "eyeless", produziram-se moscas com olhos em várias partes do corpo, incluindo as asas, pernas e extremidades das antenas, como resultado da ativação do gene em posições anormais. Um gene mestre semelhante foi encontrado nos vertebrados, que possuem olhos completamente diferentes dos insetos. O gene do homem, camundongo e outros animais é quase idêntico ao da Drosophila. Quando o gene apropriado de um cromossomo do camundongo (e possivelmente também de um humano) foi inserido em uma mosca, ele produziu olhos de mosca em todos os lugares do corpo em que foi ativado. Os dois genes são suficientemente semelhantes, de modo que o gene de mamífero leva à formação de um olho de mosca. Nossa linha de raciocínio nos leva a concluir que o sistema de genes que leva ao desenvolvimento do olho estava presente e funcionando nos primeiros trilobitas. Há um número cada vez maior de vias metabólicas do desenvolvimento que são "conservadas evolutivamente", um eufemismo para "embaraçosamente semelhantes", em um largo espectro de organismos, e a maioria delas estaria presente nos trilobitas. Por exemplo, os genes responsáveis pela organização da dorso-ventralidade no homem foram descobertos, utilizando os genes de Drosophila como sonda molecular. Os genes responsáveis pela organização do cérebro humano na embriogênese foram descobertos, utilizando os genes de Drosophila como sonda. O olho, a parte posterior do cérebro e a medula espinhal, o "pathing" dos axônios, a diferenciação dos músculos do esqueleto e do coração, a resposta fotoperiódica, a escultura dos tecidos envolvendo a morte de células selecionadas (apoptose), a modelagem embrionária, a sinalização celular e milhares de outros exemplos de processos "conservados evolutivamente" poderiam ser citados. Até a formação dos membros é dirigida, nas moscas das frutas, por um gene (Hedgehog), cujo gene homólogo nos vertebrados (Hedgehog Sônico) comanda a formação dos membros em todos os vertebrados conhecidos, incluindo o homem, camundongo, galinha e até o peixe! O mecanismo elaborado responsável precede claramente qualquer organismo com membros conhecido. De onde veio toda essa informação?
O Problema da Complexidade dos Primeiros Metazoários
Eu só apresentei uns poucos exemplos breves ilustrando a complexidade das células e organismos eucariotas atuais. Estes foram extraídos dentre centenas ou milhares de outros exemplos que poderiam igualmente ter sido usados para lograr o intento. Os primeiros animais complexos dos quais se tem um registro conhecido, os trilobitas, apareceram no início do Cambriano. A base do Cambriano é, algumas vezes, definida vagamente como o ponto na coluna geológica onde aparecem os primeiros trilobitas. Os trilobitas são artrópodes, o mesmo grupo dos insetos modernos. As células dos trilobitas se dividiam de maneira semelhante a de todos os eucariotas modernos. Os mecanismo estavam todos no lugar, todos funcionando como hoje. Os trilobitas tinham sistemas nervosos tão complexos como os dos insetos modernos. As sinapses do sistema nervoso dos trilobitas funcionavam como as sinapses de todos os organismos modernos. Os olhos dos trilobitas manifestam toda a complexidade e integridade de desenvolvimento das formas modernas. As complexidades que acabamos de descrever estavam todas presentes, todas funcionando completamente nos PRIMEIROS ANIMAIS MULTICELULARES DOS QUAIS TEMOS REGISTROS. ONDE E QUANDO OCORREU A EVOLUÇÃO??? Esta questão tem sido habilmente evitada pelos evolucionistas. Os sistemas que acabamos de descrever não aconteceram por acaso. Eles foram planejados. Cada passo dado por um trilobita foi uma acusação das impropriedades da teoria da evolução. Isto explica porque, quando evolucionistas como Steven Gould escrevem livros sobre as primeiras formas de vida, eles cuidadosamente evitam mencionar o problema do aparecimento súbito de formas infinitamente complexas. Suas atitudes são " Estas coisas estão lá, portanto a evolução deve ser capaz de fazê-las". A evolução é uma caixa preta. Ela é mágica! Isto é EVOLUÇÃO!
Em relação à escassez de evidência fóssil no Pré-cambriano, Leonard Brand (1998) escreveu:
"Uma de suas [cientistas evolucionistas] maiores suposições foi a de que o relógio molecular é confiável. Quando Levington apresentou seu trabalho [nas reuniões do GSA de 1996, em Nova Orleans] ele afirmou que o relógio molecular pode ser melhor comparado com um relógio de sol na sombra, o que não é muito encorajador para o seu método, mas ele e seus colaboradores ainda acreditam que este relógio produziu dados suficientes para testar a teoria da evolução rápida da vida no início do Cambriano...
A partir dos dados do relógio molecular eles concluíram que a divergência inicial das formas de vida metazoárias ocorreu há, aproximadamente, 1,2 bilhões de anos (mais ou menos 50 a 250 milhões de anos). A base do Cambriano é considerada geralmente como 543 milhões de anos atrás. Assim, suas conclusões requerem meio bilhão de anos de vida metazoária antes do Cambriano. Eles também concluíram que o início dos filhos metazoários não foi uma explosão, mas sim algo bastante espalhado durante aquele meio bilhão de anos.
Alguns dias mais tarde estes trabalhos foram discutidos na "Discussão de temas quentes" na hora do almoço. Quatro cientistas fizeram apresentação breves sobre novas idéias concernentes à explosão Cambriana, seguidas por perguntas e comentários da audiência. Muitas perguntas foram sobre detalhes do método de pesquisa utilizado, mas duas questões se destacaram. É necessária uma pequena explicação antes de lidar com estas questões. A proposta de que animais metazoários complexo, ancestrais de seres como moluscos, trilobitas, vertebrados, ouriços-do-mar, corais e muitos outros, existiram durante meio bilhão de anos antes do Cambriano, implica que eles viveram todo aquele tempo sem deixar registro fóssil. Isto requer que, antes do Cambriano, eles tenham existido como animais em forma de vermes moles ou semelhantes a larvas, com a constituição genética geral dos grupos cambrianos, mas sem sua morfologia com esqueletos.
Agora as questões. A primeira das duas foi – Por que os fósseis de vestígios (rastros, trilhas e tocas fósseis) são tão raros da base do Cambriano, se estes animais existiram durante meio bilhão de ano?
Um especialista em fósseis de vestígios, reconhecido internacionalmente, se levantou, possivelmente para responder a pergunta. Entretanto, ele falou sobre outras coisas e a questão mais importante nunca foi respondida. No final da discussão, outro cientista se levantou e comentou sobre a implicação de que todos os filos que possuem esqueletos desenvolveram-nos mais ou menos ao mesmo tempo no Cambriano. Ele perguntou: - Por que todos esses tipos de animais estavam vivendo há tanto tempo e então todos resolveram produzir esqueletos ao mesmo tempo? Ele então perguntou, com certo vigor – "Por que vocês estão evitando a pergunta verdadeira?" Depois de uma pausa, um dos apresentadores respondeu "Porque é realmente difícil (uma pergunta difícil)". Ele continuou dizendo que eles esperavam que as respostas surgissem após estudo mais profundo da biologia do desenvolvimento.
Estas duas perguntas não foram feitas, aparentemente, por pessoas que duvidavam da teoria da evolução, mas por cientistas evolucionistas desejosos de fazer as perguntas difíceis que precisam ser formuladas enquanto eles tentam testar diferentes hipóteses.
Permanece o fato de que a explosão no Cambriano é um dos maiores desafios para as teorias naturalistas, que ainda continua sem respostas".
Algumas citações recentes de um artigo na revista Time (When life exploded, TIME, 12/05/95 –
Steven Gould, da Universidade de Harvard (paleontólogo) "Rápido é agora muito mais rápido do que pensávamos, e isto é extraordinariamente interessante".
Samuel a Bouring, M.I.T. (geólogo): "Nós agora sabemos quão rápido o rápido é e o que eu gostaria de perguntar para os meus amigos biólogos é: Quão rápida deve se tornar a evolução antes que comecemos a nos sentir desconfortáveis?"
Rudolph Raff, Universidade de Indiana (biólogo): "Devem existir limites para a mudança. Afinal, nós temos estes mesmos velhos planos corporais há meio bilhão de anos".
G.M. Narbone, Universidade de Queens (paleontólogo): "O que Darwin descreveu no livro Origem das Espécies era o tipo de evolução com base estável. Mas também parece haver um tipo de evolução não-darviniana que atua em períodos de tempo extremamente curtos – e é lá que está toda a ação".
Conclusão
Fizemos uma consideração cuidadosa de uma pequena amostragem dos milhares de exemplos de complexidades compartilhadas pelas formas modernas, que poderiam ter sido utilizados. Vimos que, a partir de uma cuidadosa consideração da evidência, a teoria da evolução não explica a origem dos sistemas ricos em informação dos organismos biológicos.
Vimos que os trilobitas, os primeiros fósseis abundantes e bem representados de metazoários, apresentavam uma complexidade inimaginável em cada detalhe, com olhos compostos, com apêndices abdominais e brânquias, com pernas e antenas e com formas esculturais intrincadas e complexas. Eles possuíam sistemas musculares e nervosos totalmente funcionais. O seus olhos se desenvolviam por processos não só semelhantes aos dos outros artrópodes, mas semelhantes aos dos vertebrados, incluindo o homem. O sistema complexo de desenvolvimento das formas cefalizadas já estava presente e funcionando. Milhares de outras complexidades de biologia molecular, compartilhadas pelas formas modernas, já estavam operando. De onde vieram estas complexidades? Não há evidência da existência de forma anterior alguma da qual elas poderiam ter derivado. Além disso, não há evidência da existência de algum mecanismo, nos sistemas biológicos, que adicione informações a sistemas complexos (Spetner, 1998). Argumentar que eles vieram de formas pré-cambrianas que não se preservaram porque não tinham partes duras é argumentar novamente sobre a AUSÊNCIA DE EVIDÊNCIA. A ausência de evidência, em ciência, deve ser interpretada como evidência de ausência. Não existe seqüência evolutiva pré-cambriana porque não houve evolução pré-cambriana. A evolução como uma explicação para a existência de sistemas viventes complexos é um ponto de vista religioso, sustentado por aqueles que desejam que o mundo não tenha nenhum Originador. Os trilobitas e todas as outras formas apareceram em cena como organismos completamente formados e completamente competentes. Já passou da hora de substituir a teoria da evolução orgânica por uma teoria que possa explicar os dados. A única teoria que pode explicar a origem da informação é a teoria da Criação Especial. Eu não peço desculpas por escolher colocar a minha fé na existência de um Mestre Projetista, uma posição que é consistente com a mais clara interpretação da evidência disponível no registro fóssil, consistente com a mais clara leitura do livro de Gênesis e uma fé que é positiva, enaltecera e cheia de esperança para o futuro.
Resumo
Meu objetivo nesta apresentação será explorar o impacto que as descobertas da biologia molecular moderna estão tendo em nossa compreensão da história da vida na terra. Eu demonstrarei, usando uma suposição fundamental da teoria da evolução, que podemos conhecer, em detalhes requintados, a biologia molecular das primeiras formas de vida metazoárias, das quais temos um registro consistente, o trilobita. Vamos reconstruir a biologia molecular do trilobita, para construirmos um exemplo da existência, no primeiro metazoário fóssil, de todas as principais inovações representadas pelo espectro da vida na terra atual. Na ausência de evidência física da evolução de sistemas complexos e na ausência de evidência de qualquer aumento no conteúdo informacional dos sistemas complexos existentes, a crença na teoria da evolução orgânica permanece como uma questão de pura fé. Na falta de evidência física para o aumento em conteúdo informacional de qualquer sistema complexo, outra teoria que explica as origens – Criação Especial – tem precedência científica, pois ela realmente oferece uma explicação para as origens que se adequa aos dados.
© 2000, Arthur V. Chadwick, PhD.
Professor de Geologia e Biologia
Southwestern Adventist University
Keene, Texas 76059 U.S.A.
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