Southwestern
Adventist University
Tradução: Urias Echterhoff Takatohi
Revisão: Marcia Oliveira de Paula
Marcos Natal de Souza Costa
Minha Perspectiva
Ao lidar com um tópico sujeito a tanta controvérsia e interpretação
quanto este, penso que é apropriado afirmar meus próprios pressupostos no
início. Farei isto de forma abreviada. Quando cursava a faculdade, tornei-me
convencido de minha necessidade de Cristo e entreguei minha vida a ele,
unindo-me à Igreja Adventista do Sétimo dia, devido ao meu desejo de seguir a
Verdade aonde quer que ela levasse. Parecia claro para mim naquela época, e
assim é ainda hoje, que a Bíblia ensina intencionalmente lições que não podemos
apreender por nós mesmos. Conquanto eu acreditasse que processos racionais
fossem essenciais para o estabelecimento de uma filosofia de vida, reconhecia
que a razão somente não seria suficiente.
A crença em um evento de Criação
Divina literal em um passado recente é uma parte de minha filosofia. Não
necessito de evidências científicas para dar apoio a esta posição, mas espero
que, corretamente entendidos, todos os dados científicos irão finalmente fazer
sentido dentro desta estrutura. Portanto, meu objetivo ao fazer ciência, não é
"provar" que um dilúvio global ocorreu, ou que a criação foi um
evento literal que ocorreu há poucos milhares de anos atrás. Estes fatos são
assumidos como dados. Espero que, usando estas perspectivas singulares na ciência,
eu e outros assim equipados, obteremos vantagens nos "insights" que
podemos ter ao abordar problemas na arena da ciência.
Há muitas questões não respondidas
sobre o mundo natural como o que, como e quando. Para os cientistas, possuir
mais perguntas do que respostas não é uma situação desagradável. Afinal, o
papel da ciência é buscar respostas a questões do mundo natural e o que poderia
ser melhor do que estar rodeado de questões não respondidas e desafiadoras?
Também entendo que nem todos partilham desta perspectiva. No artigo que se
segue, tentarei colocar algo daquilo que sabemos, do que podemos saber, do que
não sabemos, e talvez do que não podemos saber da Bíblia e da paleontologia,
sobre a história da vida na terra.
Uma das áreas singulares a serem
exploradas seria dirigir esforços para a construção de um modelo do mundo
antediluviano, baseado no que é conhecido a partir da Bíblia e dos melhores
esforços para interpretar o mundo natural em harmonia com a Bíblia. O esforço
necessário para que um tal projeto seja viável é enorme. Alguns de nós apenas
iniciamos a sondagem do Cambriano, com o objetivo de entender o que foi
provavelmente o início do Dilúvio do Gênesis. Estamos usando padrões de
depósitos sedimentares para discriminar áreas de origem potenciais de
sedimentos e fósseis, o padrão de distribuição de fósseis para tentar
reconstruir os tipos ou número de habitats, e dados de paleocorrentes para
tentar reconstruir os padrões de fluxo e ajudar a localizar as áreas de origem.
Fica claro que um empreendimento monumental como este só poderá ser bem
sucedido por meio de um esforço conjunto, bem dotado de recursos, com tantos
pesquisadores bem treinados e dedicados quanto possível. Naturalmente o
objetivo seria entender melhor as circunstâncias que produziram o registro
fóssil, e ser capaz de explicar alguns dos detalhes difíceis de entender. Antes
de decidir se tal esforço é ou não necessário ou importante, vamos revisar o
outro aspecto desta apresentação, a paleontologia.
O que é Paleontologia?
Paleontologia é a investigação
científica da história passada da vida na terra, por meio do estudo dos restos
fósseis de animais e plantas. Esta disciplina é de considerável interesse para
a comunidade cristã, porque tem a ver com a interpretação da história passada e
particularmente a história passada da vida na terra. A paleontologia como
profissão tem causado temor e desconfiança entre os cristãos, porque muitas das
conclusões obtidas pelos paleontólogos são consideradas uma ameaça à
integridade da Bíblia, e particularmente ao relato bíblico das origens. Assim,
o título deste artigo pode ser entendido como sugerindo uma certa tensão entre
os dois assuntos, como se a paleontologia e a Bíblia estivessem de alguma forma
em contradição. Vou propor que esta atitude não é salutar e não deve ser
cogitada por aqueles que mantém uma visão holística da revelação.
A Bíblia como um Registro da Vida na Terra
O que a Bíblia diz
Nossa
preocupação é o relacionamento entre a revelação na Bíblia e a revelação no
registro histórico da vida na terra. Vamos começar com uma excursão na Bíblia.
O que podemos aprender sobre a história da vida na terra a partir da Bíblia?
Podemos aprender bastante. Conquanto a Bíblia não fale virtualmente nada sobre
os fósseis de forma direta, fala explicitamente sobre a origem das formas vivas
e, tanto quanto as conexões cronológicas são mantidas, nos fala sobre quando se
originaram. Iremos examinar esta fonte porque ela forma o fundamento e
estrutura sobre a qual tudo mais será amarrado.
O relato do Gênesis descreve o mundo
antes da Semana da Criação como escuro e coberto com água (Gên. 1:2).Esta
ausência de luz exclui a existência de vida como a conhecemos atualmente, pois
sem luz não pode haver plantas, e as plantas formam a base da pirâmide alimentar.
Um mundo coberto de água também exclui a existência de formas de vida não
adaptadas para viver na água. Consideradas juntas, estas duas frases fortemente
sugerem um mundo sem vida. Quando Deus iniciou a criação de formas de vida no
terceiro dia com as plantas, e no quinto e sexto dia com os animais das águas,
céu e terra, Ele não deixou nenhum domínio de formas vivas vazio. Qualquer
coisa que pudesse ter ocorrido no planeta antes do início da Semana da Criação,
não poderia ter envolvido a vida e morte de miríades de formas de vida. Não
havia nenhuma. Deus reivindica no capítulo inicial da Bíblia, e repetidamente
ao longo das Escrituras, ser a causa de todas formas de vida. Na época de Noé,
Deus afirma: "Disse o Senhor: Farei desaparecer da face da terra o homem
que criei, o homem e o animal, os répteis e as aves dos céus; porque me
arrependo de os haver feito”.(Gen. 6:7). João implicitamente reafirma em S.
João 1:3: "Todas as coisas foram feitas por intermédio dEle, e, sem Ele,
nada do que foi feito se fez”.Isto dá a Ele soberania sobre as formas de vida
representadas no registro fóssil também.
Os Fósseis se Originam com a Morte
Quando Deus criou a vida, uma ordem
de relacionamentos inteiramente diferente existia entre os organismos de Sua
criação. Como seria este mundo? Hoje não temos nenhum sistema de referência de
tal mundo. Não podemos mais visualizar um mundo sem a morte, assim como Adão em
seu estado não caído não podia visualizar um mundo com morte. As condições
anteriores à entrada do pecado no Jardim do Éden, e presumivelmente em toda a
terra, podem talvez ser precariamente reconstruídas pelas referências à Nova
terra. É-nos dito que no Éden restaurado,
"O lobo habitará com o cordeiro,
e o leopardo se deitará junto ao cabrito; o bezerro, o leão novo e o animal
cevado andarão juntos, e um pequenino os guiará. A vaca e a ursa pastarão
juntas, e as suas crias juntas se deitarão; o leão comerá palha como o
boi”.Isaías 11:6, 7.
Outra vez, ao descrever a Nova
Terra, Isaías escreve:
"Não haverá mais nela criança
para viver poucos dias, nem velho que não cumpra os seus; porque morrer aos cem
anos é morrer ainda jovem, e quem pecar só aos cem anos será amaldiçoado. Eles
edificarão casas e nelas habitarão; plantarão vinhas e comerão o seu fruto. Não
edificarão para que outros habitem; não plantarão para que outros comam; porque
a longevidade do meu povo será como a da árvore, e os meus eleitos desfrutarão
de todo as obras das suas próprias mãos. Não trabalharão debalde, nem terão
filhos para a calamidade, porque são a posteridade bendita do Senhor, e os seus
filhos estarão com eles. E será que, antes que clamem, eu responderei; estando
eles ainda falando, eu os ouvirei. O lobo e o cordeiro pastarão juntos, e o
leão comerá palha como o boi; pó será a comida da serpente. Não se fará mal nem
dano algum em todo o meu santo monte, diz o Senhor”.Isaías 65:20-25
E no livro de Apocalipse João
escreve:
"E lhes enxugará dos olhos toda
lágrima, e a morte já não existirá, já não haverá luto, nem pranto, nem dor,
porque as primeiras coisas passaram”.Apoc. 21:4.
É difícil para nós sabermos hoje que
nível de morte tem significado no plano de Deus. As mudanças afetaram apenas os
mamíferos, ou vertebrados? O que os tamanduás comiam? O que se pode dizer sobre
as plantas? E as bactérias? A ignorância alimenta a especulação. Nossa
incapacidade de explicar, descrever ou entender como tal sistema pôde existir
tem sido considerada por alguns como evidência de que ele não existiu, e que a
morte é uma parte da "ordem natural”.Mas é tão inútil para nós hoje
tentarmos entender como tal ordem pôde existir, como é para nós tentarmos
entender o processo pelo qual Deus originou a vida no princípio. Não temos
pontos de referência para um mundo assim. Nossa incapacidade de descrever ou
entender tal sistema deve ser reconhecida como é: uma limitação de nosso
conhecimento e compreensão. Naturalmente, é mais satisfatório e
autogratificante, afirmar que tal sistema não poderia ter existido, do que
admitir que a falha é nossa. Os detalhes terão que esperar nova revelação ou
nosso retorno ao Éden.
Qualquer que tenha sido a ordem no
mundo edênico, com a entrada do pecado, ele chegou ao fim, e a morte
rapidamente se seguiu. Deus mesmo tirou a vida de animais preciosos para prover
roupas para Adão e Eva, que serviriam de lembretes constantes das conseqüências
de suas escolhas, e de sua necessidade de um Salvador. Com o pecado veio a
morte (Gên. 2:17, Romanos 6:23). Paulo bem descreve a entrada da morte como
conseqüência natural da desobediência em Romanos 5:12: "Portanto, assim
como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim
também a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram”.Em Romanos 8:22,
ele afirma: "Porque sabemos que toda a criação, a um só tempo, geme e
suporta angústias até agora”.Com a morte veio a possibilidade de fossilização,
a preservação de restos de organismos anteriormente vivos. E com a fossilização
vem a paleontologia.
O Registro da Morte
Como a paleontologia está
relacionada com a morte, olharemos para este aspecto da história da vida na
terra. A crosta terrestre contém mais de 20 trilhões de toneladas de matéria
orgânica armazenada como carvão, petróleo e carbono disperso. Há outros
trilhões de toneladas de restos dos componentes inorgânicos dos fósseis, tais
como conchas, ossos e outras formas. Há uma grande probabilidade de que pelo
menos uma parte significativa deste material tenha sido produzida em conexão
com a Semana da Criação. Por exemplo, Deus criou os recifes de coral, ou apenas
pólipos de coral sem um lar? Havia matéria orgânica no solo ou era ele composto
inteiramente de constituintes inorgânicos? Deve-se notar que, sem uma fonte de
carbonato de cálcio, os oceanos não seriam um local adequado para o crescimento
de muitos invertebrados marinhos. Aquários marinhos requerem um substrato de
coral ou conchas no fundo para proverem um ambiente saudável. De qualquer
forma, uma grande parte do material fóssil representa os restos de organismos
que viveram na terra, e temos no registro paleontológico evidência de
destruição em massa de formas viventes. Mais tarde vamos examinar
detalhadamente a organização destes restos fósseis. Mas primeiro, o que podemos
entender sobre este registro de morte em massa a partir da história bíblica? Já
vimos que a morte se seguiu ao pecado. O pecado foi, com toda probabilidade,
uma aflição logo no início na terra. Adão e Eva ainda não tinham procriado,
algo que foi um mandado explícito em Gên. 1:28. Isto nos dá um período de
poucos milhares de anos, entre a entrada da morte e o catastrófico dilúvio
mundial considerado a seguir. Durante este tempo, o período antediluviano, a morte de formas animais foi aparentemente
uma ocorrência cada vez mais freqüente e violenta entre todas as categorias de
organismos, incluindo o homem. Observando os resultados do pecado pouco antes
do dilúvio, Deus "Viu... que a maldade do homem se havia multiplicado na
terra e que era continuamente mau todo desígnio do seu coração”.(Gên. 6:5).
É até mais gráfica e inclusiva a
linguagem nos versos seguintes:
"A terra estava corrompida à
vista de Deus e cheia de violência. Viu Deus a terra, e eis que estava
corrompida; porque todo ser vivente havia corrompido o seu caminho na terra. Então,
disse Deus a Noé: Resolvi dar cabo de toda carne, porque a terra está cheia da
violência dos homens; eis que os farei perecer juntamente com a terra."
(Gên. 6:11-13).
Devem ter ocorrido mortes e
destruição em larga escala, não apenas de seres humanos, mas também de cada
forma de vida animal, como resultado da expansão do pecado na terra. A morte e
destruição são o que fornecem material para a paleontologia, e temos evidência
de que restos de formas de vida devem ter se acumulado antes da destruição da
superfície da terra pelo dilúvio. Se estas formas foram realmente enterradas
antes do dilúvio é um assunto sobre o qual se pode especular longamente. Ao
final do dilúvio, aqueles restos que permaneceram foram enterrados e, ao menos
em parte, preservados. Mas a morte e a destruição ocorridos no mundo
antediluviano não podem ser comparados com o que ocorreu como resultado do
dilúvio em si (o período diluviano).
Lemos em Gênesis 6:
"Disse o SENHOR: Farei
desaparecer da face da terra o homem que criei, o homem e o animal, os répteis
e as aves dos céus; porque me arrependo de os haver feito”.(v.7).
"Então, disse Deus a Noé:
Resolvi dar cabo de toda carne, porque a terra está cheia da violência dos
homens; eis que os farei perecer juntamente com a terra”.(v.13).
"Porque estou para derramar
águas em dilúvio sobre a terra para consumir toda carne em que há fôlego de
vida debaixo dos céus; tudo o que há na terra perecerá”.(v.17).
"Pereceu toda carne que se
movia sobre a terra, tanto de ave como de animais domésticos e animais
selváticos, e de todos os enxames de criaturas que povoam a terra, e todo
homem. Tudo o que tinha fôlego de vida em suas narinas, tudo o que havia em
terra seca, morreu. Assim, foram exterminados todos os seres que havia sobre a
face da terra; o homem e o animal, os répteis e as aves dos céus foram extintos
da terra; ficou somente Noé e os que com ele estavam na arca”.(Gên. 7:21-23).
A linguagem é inconfundível. O
dilúvio foi um cataclismo colossal que afetou a terra toda. Nenhuma inundação
local pode fazer justiça a este relato, e sugerir isto é ridículo, embora isso
seja feito freqüentemente por aqueles que desejam preservar um sabor de
historicidade para o relato do Gênesis, sem sacrificar a ortodoxia científica.
Não está claro porque Noé e seus filhos teriam que gastar 120 anos construindo
um barco por causa de uma inundação local, ou porque a preservação de animais
na arca seria necessária no caso de uma inundação local.
"Nesse mesmo dia entraram na
arca Noé, seus filhos Sem, Cam e Jafé, sua mulher e as mulheres de seus filhos;
eles, e todos os animais segundo as suas espécies, todo gado segundo as suas
espécies, todos os répteis que rastejam sobre a terra segundo as suas espécies,
todas as aves segundo as suas espécies, todos os pássaros e tudo o que tem asa.
De toda carne, em que havia fôlego de vida, entraram de dois em dois para Noé
na arca; eram macho e fêmea os que entraram de toda carne, como Deus lhe havia
ordenado; e o Senhor fechou a porta após ele”.(Gên. 7:13-16).
No relato do dilúvio, temos um
registro de morte e soterramento de formas de vida em uma escala global. Este
relato tem um profundo efeito sobre o que fazemos com a história registrada da
vida animal na terra.
O terceiro período durante o qual
animais e plantas morreram e foram preservados como fósseis é o período após a
saída dos residentes da arca nas "Montanhas do Ararate”.Este período será
referido aqui como o período
pós-diluviano. Embora o próprio dilúvio tivesse terminado, as conseqüências
do mesmo sobre a terra não haviam terminado, e por um período de centenas a
milhares de anos, após o desembarque da arca, a vida na terra em recuperação
estaria passando por uma rápida proliferação e modificação, para se acomodar
aos novos ambientes resultantes da catástrofe. Estas condições, ideais para a
criação de fósseis, são também as condições necessárias para uma rápida
especiação: baixas densidades populacionais, rápida migração, altas taxas de
reprodução e altas taxas de alterações geológicas. Mesmo hoje, podemos
ocasionalmente testemunhar catástrofes geológicas que produzem a fossilização
de organismos em grande e pequena escala. Um exemplo amplamente citado foi a
erupção catastrófica do Monte Santa Helena no Estado de Washington em 1980.
Nesta catástrofe, milhões de animais e plantas foram destruídos de uma forma
que irá facilitar a preservação de alguns deles como fósseis pós-diluvianos.
Se nosso alvo como cientistas inclui tentativas de
entender a história passada da vida na terra, o reconhecimento destes três
períodos (antediluviano, diluviano e pós-diluviano) e a busca pela recuperação
de seus limites deve ter uma alta prioridade. Voltaremos a este ponto mais
tarde. Retornemos agora nossa atenção à paleontologia.
O Registro Fóssil
O que são os Fósseis?
Fósseis são
quaisquer restos de organismos previamente existentes encontrados nas rochas ou
sedimentos. Os fósseis podem variar desde películas de carbono em rochas
pré-cambrianas atribuídas a bactérias, aos esqueletos gigantes de baleias
completas enterradas em diatomita, que é uma rocha composta de minúsculos
fósseis de organismos unicelulares. Um fóssil pode ser um molde da forma
externa de uma concha, ou o preenchimento interno de um molde, com o organismo
original completamente ausente. Os fósseis podem ser o resultado da
substituição, um processo que substitui a matriz original do organismo, átomo
por átomo, com minerais. Os organismos podem ser impregnados com minerais,
consolidando o animal original como uma rocha. Os fósseis também podem
representar as partes duras de organismos, essencialmente inalterados em sua
química original, mas presos em rocha. No caso de ossos, por exemplo, a
fossilização envolve a remoção das proteínas do osso, e recristalização dos
minerais do osso em uma forma ligeiramente diferente. Qualquer que seja o
processo, um registro do animal é deixado de forma que pode ser recuperado pelo
paleontólogo para estudo e interpretação.
Condições para
fossilização
Várias condições devem ser
satisfeitas para formar um fóssil a partir de um organismo morto. A primeira
destas é o soterramento. A maioria dos fósseis precisa ser soterrada dentro de
um curto período após a morte, para que as partes de seu corpo possam ser
encontradas juntas. Quando um paleontólogo encontra uma assembléia de fósseis,
alguns podem exibir decomposição e desarticulação, mas com freqüência são
encontrados, na mesma assembléia deposicional, organismos intactos ou mesmo
organismos que foram enterrados vivos1. Estudos tafonômicos têm
determinado o período de tempo necessário para que organismos de vários tipos
se desarticulem. Este período é muito dependente das condições sob as quais os
restos são mantidos. Em ambientes úmidos, a carne decompõe-se rapidamente e os
ossos ou partes do corpo são rapidamente dispersos. Se o organismo está em um
clima árido, a carne pode se desidratar, cimentando os ossos e impedindo sua
dispersão por um longo tempo. Como para formas fósseis as condições pós-morte
são raramente conhecidas com certeza, deve-se deduzir com cuidado qualquer
conclusão a que possamos chegar com respeito à rapidez de soterramento.
Geralmente, os organismos que vivem na água irão se desintegrar rapidamente, a
menos que ocorra um soterramento num ambiente que favoreça a preservação.
Depósitos que contém organismos intactos ou vivos no momento do soterramento
exigem enterro e preservação rápidos e definem uma taxa mínima de soterramento.
Uma segunda condição para muitos
tipos de fossilização é a presença de fluido carregado de minerais nos poros do
sedimento. O tipo de mineral no fluido e a composição do próprio fóssil irá
determinar o tipo de fossilização que ocorrerá.
Uma terceira condição para muitos
tipos de fossilização é a aplicação de uma pressão de confinamento
significativa, e, em alguns casos, também de temperaturas elevadas. Há muito a
ser aprendido sobre os processos de fossilização, sendo esta uma área de estudo
com futuro promissor.
A Coluna Geológica
Na superfície da terra, rochas
sedimentares estão expostas em muitos lugares. As explorações em busca de
petróleo revelaram informações adicionais concernente às rochas abaixo da
superfície da terra, e nosso conhecimento sobre estas rochas é considerável.
Com o tempo, estas rochas sedimentares foram sistematizadas com base nos
fósseis que contém e no relacionamento entre as camadas. Este registro
sistemático é chamado de coluna
geológica. Quando é feita referência à distribuição de fósseis na coluna
geológica, o termo registro fóssil é
usado com freqüência. O conhecimento da coluna geológica é valioso na busca
pela compreensão da história passada da vida na terra. Um esboço de seus
aspectos principais irá nos ajudar em nosso estudo.
O conjunto de rochas presentes na
crosta terrestre é convenientemente dividido em duas unidades principais com
base no conteúdo fóssil das camadas. As rochas contendo fósseis animais foram
atribuídas às divisões do Fanerozóico. As rochas geralmente desprovidas de
fósseis abaixo deste nível foram designadas como pré-cambrianas. O Fanerozóico
é dividido em três eras. De baixo para cima são: Paleozóica, Mesozóica e
Cenozóica. A Era Paleozóica é subdividida em seis períodos, de baixo para cima:
o Cambriano, Ordoviciano, Siluriano, Devoniano, Carbonífero (Mississipiano e
Pensilvaniano nos Estados Unidos da América) e Permiano. Nas rochas paleozóicas,
o registro fóssil inclui membros de cada filo animal significativo, de esponjas
aos vertebrados. Inclui também plantas vasculares e não vasculares afins aos
grupos atuais. A Era Mesozóica é subdividida em três períodos, de baixo para
cima: Triássico, Jurássico e Cretáceo. O registro Mesozóico é mais conhecido
pelos espetaculares fósseis de dinossauros, mas também inclui os primeiros
registros de mamíferos, e o aparecimento do último grupo principal de plantas
fósseis, as plantas com flores. A Era Cenozóica é dividida no Terciário e
Quaternário. Estes estratos registram a morte e soterramento de grande número
de mamíferos, e a transição para o ambiente recente.
O Pré-cambriano
O Pré-cambriano contém todos os tipos de rochas presentes no
Fanerozóico, mas geralmente sem fósseis multicelulares. O termo Pré-cambriano
foi originalmente aplicado para todas as rochas sem fósseis que ficam na base
de estrados definidos como cambrianos, com base nos fósseis de metazoários
(animais multicelulares) que contêm. Rochas pré-cambrianas também são separadas
das rochas fanerozóicas por uma grande discordância angular em muitos lugares
do mundo.
Estudos contínuos têm revelado que,
conquanto as rochas pré-cambrianas mostrem ausência de fósseis de metazoários
(algumas exceções possíveis serão consideradas a seguir), elas contêm películas
inorgânicas e estruturas complexas que, ao menos superficialmente, lembram
células bacterianas e de algas modernas. Estromatólitos, estruturas
litificadas, laminadas, de relevo domeado que lembram estruturas de algas com o
mesmo nome, são também encontrados em algumas rochas pré-cambrianas. Na parte
superior do Pré-cambriano (Vendiano), encontra-se uma variedade de formas
descritas como cistos e acritarcos2, assim como um grupo de impressões
fósseis complexas em arenitos, chamadas de Fauna de Ediacara (nome dado devido
à localidade na Austrália onde foram encontrados pela primeira vez). Pelo fato
de serem impressões em arenito, não há restos orgânicos, e podem ser vistos
poucos detalhes na maioria dos espécimes. Eles têm sido considerados como
animais invertebrados primitivos de várias afinidades, como seres unicelulares
inflados, ou liquens, ou restos de grupos animais extintos. Estas estruturas
têm simetria e superficialmente parecem ter estado vivas. Têm a aparência de
folhagens penadas, bolsas ou discos. Os organismos com aparência de folhagem
usualmente mostram ramos delicados, e nenhum destes organismos possui cabeças
ou sistemas circulatórios, nervosos ou digestivos óbvios. Como não podem ser
claramente associados a nenhum grupo existente, não podem atualmente servir de
base para qualquer argumento forte.
Recentemente, outra descoberta foi
anunciada em estudos de localidades do Pré-cambriano Superior na China. Estas
localidades contêm camadas ricas em fosfato. Os depósitos de fosfato têm a
capacidade excepcional de petrificar estruturas delicadas em detalhes mínimos.
Uma análise microscópica de materiais destas camadas revelou a preservação do
que foi descrito como embriões de animais e plantas. A datação indireta dos
depósitos pode ser desafiada e eles podem bem ser cambrianos em vez de
pré-cambrianos. Em qualquer caso, estão muito perto do limite do cambriano.
Estes achados, se substanciados por mais trabalhos, são de grande interesse por
causa dos detalhes de preservação. Os fósseis, alguns dos quais ao menos
superficialmente lembram estágios primitivos de formas embrionárias animais,
não são atribuíveis com certeza a nenhum grupo existente e pode ser que sejam
de algas.
A explicação convencional para o
registro pré-cambriano é que as formas orgânicas e inorgânicas, semelhantes a
células, são os restos das primeiras células que se desenvolveram no planeta.
Esta teoria também mantém que estas formas se originaram de material não vivo
através de processos completamente naturais (isto é, nenhum Criador) durante o
Pré-cambriano. Subseqüentemente, a evolução biológica ocorreu, levando à imensa
complexidade revelada nas formas metazoárias do Cambriano. Esta afirmação
absurda tem sido a causa de considerável consternação entre biólogos
criteriosos. Werner Arber, biólogo molecular na Universidade de Basel, ganhador
de um prêmio Nobel, assim resumiu a extensão do problema:
"Embora seja um biólogo, devo
confessar que não entendo como a vida se originou. . . . Considero que a vida
apenas se inicia ao nível de uma célula funcional. A célula mais primitiva pode
requerer pelo menos várias centenas de macromoléculas biológicas específicas
diferentes. Como tais estruturas já bastante complexas podem ter se ajuntado,
permanece um mistério para mim. A possibilidade da existência de um Criador, de
Deus, representa para mim uma solução satisfatória para este problema."3
Pelo menos duas posições
alternativas podem explicar os dados observados sem serem atrapalhadas pela
impossibilidade de explicar a origem da vida e de formas de vida complexas. Uma
visão alternativa atribui as impressões em rochas pré-cambrianas a processos
inorgânicos e atribui todos os seres vivos ao relato bíblico da Criação. Há
pelo menos evidências indiretas de que todas as formas descritas como
cianobactérias e outros Procariontes podem ser duplicadas em laboratório com
compostos inorgânicos. Os estromatólitos também podem ter origem inorgânica.
Uma terceira hipótese seria a possibilidade de as cianobactérias terem sido
colocadas na terra antes da Semana da Criação. Ambas as hipóteses têm a
vantagem de lidar satisfatoriamente com os dados, sem desculpar o problema de
ter vida aqui em primeiro lugar. E ambas estão pelo menos dentro do espírito do
relato das origens do Gênesis. As formas fósseis de Ediacara e outros exemplos
de possíveis metazoários pré-cambrianos estão no Pré-cambriano Superior. Se
forem mesmo restos de organismos vivos, poderão facilmente ser acomodados em
qualquer destes modelos como seres não incluídos no Paleozóico, talvez
soterrados durante o período antediluviano.
O Fanerozóico
O resto do registro fóssil é
composto pelo Fanerozóico, as rochas nas quais a vida, em todas as suas formas,
aparece na terra. Iremos cobrir o conteúdo das várias divisões do Fanerozóico
com um certo detalhe à medida que continuamos. Voltemos nossa atenção para
estes detalhes.
O Paleozóico
O Paleozóico é dominado pelos
invertebrados marinhos. Quando se continua subindo a coluna, plantas e anfíbios
são adicionados, seguidos de perto pelos répteis. O Paleozóico termina com o
último registro fóssil da maioria destas plantas e invertebrados marinhos.
O Cambriano
Na base do Paleozó1ico, em muitas partes
do mundo, estão as rochas do Cambriano. O Cambriano foi historicamente definido
pela ocorrência das primeiras formas fósseis de metazoários, com freqüência
trilobitas. Esta definição tem sido revisada na medida em que ficam mais
intensos os esforços para encontrar ancestrais dos metazoários fósseis do
Cambriano, e na medida em que foram encontradas algumas faunas que precedem
estratigraficamente o primeiro trilobita. O limite inferior do Cambriano é
atualmente definido pelo aparecimento de rastros fósseis (tocas), de Trichophycus pedum. A certa distância
estratigraficamente acima disto aparecem os primeiros restos de animais
metazoários. Estas faunas têm sido coletivamente chamadas de a "Pequena
Fauna de Conchas”, uma descrição adequada para elas. Os fósseis são muito
pequenos, tipicamente com alguns milímetros de diâmetro, e consistem de cones,
tubos, espinhos e placas de afinidades desconhecidas. Estes são logo depois
enriquecidos com espículas de esponjas, conchas de moluscos, braquiópodes e
algumas formas desconhecidas, cujas afinidades ainda estão sendo pesquisadas.
Estes são seguidos em rápida sucessão pelos trilobitas e outros artrópodes.
Representantes de virtualmente todos filos aparecem como fósseis nos estratos
do Cambriano Inferior. O único filo significativo do qual não aparecem fósseis
no Cambriano é o Briozoa. Com o tempo, suspeito que seus restos fósseis também
serão achados nestas rochas. O repentino aparecimento de formas vivas -
representantes de virtualmente todas formas vivas - é amplamente referido como
a "Explosão Cambriana”.As
teorias para explicar o aparecimento catastrófico de todo o espectro da vida
animal em sucessão tão rápida, são tanto numerosas quanto insatisfatórias. A
maioria delas é composta apenas pouco mais do que gesticulação e pensamentos
esperançosos. Geralmente as explicações incluem afirmações sobre o
desenvolvimento de partes duras (mais ou menos simultaneamente em membros de
cerca de 35 filos), possibilitando que organismos de corpo mole, já existentes
previamente, repentinamente pudessem ser preservados como fósseis. Infelizmente
para este cenário, o registro em rochas mostra belas preservações de formas de
corpo mole no Cambriano (mais de 80% dos gêneros registrados no Folhelho
Burgess, por exemplo, são de formas de corpo mole), mas estratos pré-cambrianos
idênticos não contêm nenhuma evidência de tais formas. Além disto, há uma
ausência geral, em rochas pré-cambrianas, de tocas e rastros que mesmo os
animais de corpo mole são capazes de produzir atualmente. É o primeiro
aparecimento deste tipo de rastro fóssil, Trichophycus
pedum, que marca o início das rochas cambrianas.
As questões envolvendo a Explosão
Cambriana têm muitas facetas. O aparecimento de membros de quase todos os filos
num período que, em termos evolutivos, é muito curto, deixou a evolução na
posição inviável do Rei em suas "roupas novas". Os sentimentos
expressos num artigo recente na Internet são reveladores:
"O período Cambriano foi
estranho e empolgante, mas foi também uma época de confusão. Uma confusão que
dura 150 anos com os cientistas desconcertados sobre a explosão repentina do
Cambriano. Não existe nenhuma teoria amplamente aceita que explique o surto de
vida, e, portanto, é adequado que terminemos com estas questões. É possível
achar respostas para os problemas? Qual a causa deste rápido Big Bang
biológico? Por que não têm ocorrido repetições de evoluções bem sucedidas desde
então? Por que não surgiram novos filos após o Cambriano?"
De um ponto de vista paleontológico
há várias explicações possíveis para os dados. A hipótese naturalista
geralmente aceita é que as formas cambrianas eram os descendentes evolutivos de
precursores de corpo mole do Pré-cambriano, que se tornaram
"pré-adaptados" para ocupar espaços em um novo ecossistema que se estabeleceu
no início do Período Cambriano. Assim o "aparecimento repentino" é
ilusório, e os animais meramente evoluíram de seus papéis anteriores no
Pré-cambriano. Qualquer que seja a satisfação que tal teoria pode produzir nas
mentes de seus adeptos, deve ser destruída pela ausência de qualquer dado que
dê apoio a essa teoria. Além da ausência de precursores metazoários
pré-cambrianos, a complexidade da biologia molecular das formas cambrianas
primitivas se iguala a qualquer forma viva hoje4. É preciso responder
ao desafio de toda a evolução da informação bioquímica complexa nos metazoários
ter ocorrido no Pré-cambriano, onde não há evidência de metazoários. Tal
posição requer um comprometimento de fé para com um modelo, que iguala ou
excede o requerido em qualquer visão religiosa imaginável. Naturalmente os
defensores desta teoria esperam que algum dia sejam encontrados os imaginários
ancestrais pré-cambrianos. Mas, a despeito de esforços crescentes nesta
empreitada, a lacuna permanece.
Uma segunda hipótese, a Deísta,
bastante popular entre alguns cristãos, aceita uma criação divina de todas
estas formas de vida no passado remoto. Numa hipótese variante (Teísta), Deus
está envolvido ao longo do caminho. Os dois pontos de vista são baseados em
pressupostos naturalistas, que interpretam os eventos discutidos em Gênesis 1
como figurativos, a fim de preservar um comprometimento com a escala de tempo
radiométrica e com o paradigma naturalista (evolucionista). Uma terceira
hipótese, a chamada Intervencionista ou hipótese Criação/Dilúvio, explica o
repentino aparecimento de diversos fósseis complexos em sedimentos cambrianos
como um registro da criação repentina de todo o espectro das formas de vida,
associada com o dilúvio catastrófico descrito nos primeiros capítulos do
Gênesis. A presença de um completo espectro de uma biota complexa, na ausência
de evidência de ancestrais, certamente oferece um forte apoio para este modelo.
As rochas abaixo do Cambriano teriam se acumulado na terra possivelmente antes
da semana da criação de Gênesis 1, e assim não contém evidência de metazoários.
As rochas do Cambriano representam ou os sedimentos acumulados na terra após a
Criação, e antes do Dilúvio, ou são as primeiras rochas resultantes do Dilúvio.
Na hipótese Naturalista, não há um
Criador. As hipóteses Deísta/Teísta e Criação/Dilúvio envolvem um Criador, e o
Criador é o Deus da Bíblia. É difícil crer que indivíduos inteligentes e
educados não consigam ver a mão do Criador na natureza. Como afirmou Werner von
Braun:
"Não
é possível ser exposto à lei e ordem do universo sem concluir que deve haver
planejamento e propósito por trás de tudo... Quanto mais entendemos a
complexidade do universo e de tudo que ele abriga, mais razão temos para nos
maravilhar com o planejamento inerente sobre o qual ele é baseado... Ser
forçado a crer em apenas uma conclusão -- de que tudo no universo aconteceu por
acaso -- iria violar a própria objetividade da ciência... Que processo
aleatório poderia produzir o cérebro de um homem ou o sistema de um olho
humano? ... Eles (os evolucionistas) desafiam a ciência para provar a
existência de Deus. Mas é preciso acender uma vela para ver o sol? ... Eles
dizem que não podem visualizar um Planejador. Bem, pode um físico visualizar um
elétron? ... Que raciocínio estranho faz com que alguns físicos aceitem o
elétron inconcebível como real, enquanto se recusam a aceitar a realidade de um
Planejador, dizendo que não conseguem concebê-lo? ... É com honestidade
científica que apoio a apresentação de teorias alternativas para a origem do
universo, da vida e do homem nas salas de aula. Seria um erro deixar de lado a
possibilidade de que o universo tenha sido planejado em vez de ter aparecido
por acaso."5
A decisão entre os pontos de vista
Teísta/Deísta e Criação/Dilúvio deve ser feita levando em conta o que o próprio
Criador nos disse. Estamos lidando com a história da terra, e, em história, um
relato escrito de uma testemunha ocular é a informação disponível mais valiosa.
Dados extracientíficos precisam ser usados ao tentar discriminar as duas
hipóteses (ou outras que possam ser construídas) sobre as origens, e faz
bastante sentido para quem afirma lealdade ao Deus da Bíblia, procurar
respostas na Bíblia, sem sentir necessidade de se desculpar. Uma leitura direta
do relato bíblico mostra que ele é claramente estruturado em poucos milhares de
anos, favorecendo a hipótese Criação/Dilúvio. Este ponto de vista das origens
não é isento de problemas no mundo natural, como veremos. Mas as conclusões
finais a que se chega, em relação às origens, se apóiam em quem ou o que um
indivíduo escolhe aceitar como autoridade. Nas duas primeiras hipóteses, a
autoridade é o naturalismo e o racionalismo. O indivíduo afirma que a mente
humana, agindo só, é capaz de discriminar toda verdade. Na terceira, a fonte
final de autoridade é o Deus da Bíblia. É imperativo que indivíduos trabalhando
nesta área reconheçam e admitam qual é sua fonte de autoridade. Até que isto
possa ser estabelecido, há pouca base frutífera para uma comunicação construtiva.
Na balança, a hipótese Criação/Dilúvio é consistente com uma leitura clara da
Bíblia, enquanto a hipótese Deísta/Teísta não o é. A hipótese Criação/Dilúvio
também se confronta satisfatoriamente com as questões mais urgentes na
paleontologia: a origem da vida e a Explosão Cambriana. A hipótese Naturalista,
mesmo com toda sua popularidade, não satisfaz nenhuma das duas. Conquanto haja
outras hipóteses ou variantes que poderiam ser propostas e discutidas, vamos
nos limitar a estas três. Ao continuar nossa avaliação do registro
paleontológico, mantenha estas três hipóteses em mente.
O registro fóssil do Cambriano é de
grande riqueza e incrível diversidade. Gould 6
o comparou a um arbusto de cabeça para baixo (o oposto de uma árvore filogenética
normal), porque desde o princípio a diversidade é muito grande e há muitas
formas que não são encontradas em níveis superiores do registro fóssil. Durante
o Cambriano, a diversidade de trilobitas alcançou o seu máximo. Quando a
deposição do Cambriano é superposta pelas rochas ordovicianas, a transição é
mais uma questão de mudança de tipos de rochas do que qualquer mudança
importante na fauna.
O Ordoviciano
As rochas ordovicianas exibem um
aumento contínuo em diversidade, com muitas espécies de braquiópodes,
trilobitas, corais, crinóides, cefalópodes e peixes sem mandíbula. O
Ordoviciano se inicia com cerca de 150 famílias de organismos e termina com
mais de 400. O único filo adicional ainda não registrado no Cambriano é o
Bryozoa. Embora fósseis de plantas terrestres não sejam vistos senão em camadas
superiores, há relatos de esporos de plantas terrestres no Ordoviciano. A
diversidade de trilobitas ainda é grande em sedimentos ordovicianos. A
"Extinção Ordoviciana" ocorreu próxima ao topo do período
Ordoviciano. Neste ponto do registro fóssil, um terço de todas famílias de
braquiópodes e briozoários desaparecem, assim como numerosos grupos de
conodontes, trilobitas e graptolitos. Grande parte da fauna construtora de
recifes foi também dizimada. No total, mais de cem famílias de invertebrados
marinhos aparecem pela última vez. Estas famílias desaparecem do registro de
uma forma ordenada e regionalmente consistente. Qualquer modelo com o propósito
de explicar a história da terra com integridade deve acomodar estes dados.
O Siluriano e Devoniano
Seguindo-se à perda de diversidade
(soterramento de habitats?) no fim do Ordoviciano, novos grupos aparecem como
fósseis durante o Siluriano e o Devoniano. Os recém-chegados incluem os
primeiros fósseis de plantas terrestres macroscópicas do Siluriano. Além disto,
o registro Devoniano inclui os primeiros fósseis conhecidos de tubarões, peixes
ósseos e cefalópodes, além de uma variedade de estromatoporóides e corais.
Fósseis de formas terrestres que aparecem em estratos devonianos incluem
anfíbios, insetos e muitos tipos de plantas terrestres.
O Carbonífero
(Mississipiano e Pensilvaniano nos Estados Unidos)
Quando os últimos estratos
devonianos foram depositados, o registro fóssil passou a incluir um grande componente
de fósseis associados com águas rasas ou terra. O registro marinho continua a
conter abundantes restos de briozoários, equinodermas (particularmente
crinóides), braquiópodes, moluscos e artrópodes. A grande representação de
insetos do Carbonífero atrai muito interesse. Muitas destas formas, incluindo
baratas e libélulas, são familiares para nós hoje em dia, porém em tamanhos
muito menores. O Carbonífero contém os primeiro grandes depósitos de carvão, e
é deste aspecto que veio o nome deste período. Os carvões do Carbonífero são
constituídos de plantas que não são familiares para nós hoje, embora haja
representantes vivos da maioria dos grupos. As plantas dominantes são
licopódios gigantes, fetos arborescentes, cavalinhas e outros, muitas vezes
maiores do que qualquer de seus equivalentes modernos.
Uma objeção algumas vezes levantada
contra a hipótese Criação/Dilúvio (de que o registro fóssil é em grande parte
resultado de um único evento) é o volume gigantesco de material de origem
orgânica na crosta terrestre. A grande quantidade de carvão, petróleo, gás e
carbono disperso parece estar bem além do escopo do que um evento único possa
produzir. Assim parece, pelo menos até que examinemos os dados.
A estimativa mundial de reservas de
gás natural é de 5.000 trilhões de pés cúbicos. Isto poderia ser convertido em
cerca de 94 bilhões de toneladas curtas de carbono (carvão). As reservas
mundiais de petróleo são de cerca de um trilhão de barris. Isto seria
equivalente a 180 trilhões de toneladas de carbono (carvão). Somando isto às
reservas de carvão, estimadas em 1 trilhão de toneladas, teremos um total
mundial de 1274 bilhões de toneladas de carbono fóssil a partir de fontes
orgânicas (gás, petróleo e carvão).
Comparado com isto, a biosfera atual
contém aproximadamente 829 bilhões de toneladas de carbono, cerca de 83% da
massa do carbono fóssil preservada como carvão, petróleo e gás. Cerca de 243
bilhões de toneladas métricas de biomassa vegetal seca são produzidas por ano.
Se a terra estivesse operando sob condições ótimas, poderíamos aumentar este
valor em 10 vezes (maiores massas de terra, maior concentração de CO2,
nenhum deserto, vegetação cobrindo os oceanos, biomassa ótima nos oceanos e mares
... ver abaixo). Permitindo esta otimização, poderíamos ter um acúmulo de 2
trilhões de toneladas de vegetação (peso seco) por ano. Se uma média de acúmulo
de material orgânico representasse dez anos de crescimento, 20 trilhões de
toneladas de material orgânico, vivo, morto e em decomposição poderiam estar
presentes na superfície da terra na época do dilúvio, apenas provenientes de
plantas. Além disto, também poderia haver na época cerca de 2000 anos de
acúmulo de carvão, com cerca de 10 - 20% do carbono sendo preservado
permanentemente como carvão disperso nos sedimentos e na coluna de água.
Poderia haver também uma quantidade desconhecida de carbono orgânico adicionado
a terra na época da criação, para preparar sua superfície para habitação.
Turfeiras atuais também fornecem um
exemplo de como o ambiente pré-diluviano poderia ter possuído um reservatório
de carbono muito maior do que a biomassa atual. Outros reservatórios podem ter
incluído massas flutuantes de vegetação tais como as encontradas em certos
pântanos modernos. A maior parte da vegetação paleozóica deve ter crescido sob
estas condições, não apenas porque os representantes modernos destes grupos o
fazem, mas porque mesmo uma análise superficial das estruturas de raízes
associadas com estas plantas indicam que elas não poderiam ter crescido no
solo. As plantas cresciam até 30 metros de altura, provavelmente em uma única
estação de crescimento, e a maioria das formas era anual, possuindo pouca ou
nenhuma madeira. As raízes eram estruturas de ancoragem singulares chamadas Stigmaria, que se ramificavam da base do tronco para lados opostos,
dividindo-se imediatamente para produzir quatro raízes principais, que
tipicamente se bifurcavam outra vez próximas ao tronco. Estas raízes cresciam
de um broto terminal e enviavam para fora radículas de tamanho de um lápis num
arranjo espiral, até meio metro do eixo principal. As radículas eram compostas
de células grandes de parede fina, com pouco tecido estrutural. Desta aparência
deduz-se que as raízes foram planejadas para penetrar restos vegetais, e
certamente não poderiam ter crescido no solo. Devido a seu tamanho e volume, e
ao rápido crescimento evidente, grandes quantidades desta vegetação poderiam
ter se acumulado rapidamente, sob as condições de crescimento ideal do mundo
pré-diluviano. Não é surpreendente que houvesse grande quantidade deste
material disponível para ser soterrado e convertido em carvão durante o
dilúvio. As raízes de muitos dos fetos arborescentes dominantes (e.g. Psaronius) mostram tecido
aerenquimatoso, composto de células de paredes finas cheias de ar. Estes
aspectos também são característicos de plantas aquáticas ou semi-aquáticas.
Portanto, estas formas poderiam facilmente ter crescido sobre pesadas massas de
vegetação flutuante, permitindo a possibilidade de um grande reservatório de
carbono adicional. De qualquer forma, havia, pelo menos em teoria, carbono mais
do que suficiente na terra pré-diluviana para justificar todo o carvão,
petróleo, gás e carbono de origem orgânica disperso nos sedimentos.
O Carbonífero também contém restos
de muitos anfíbios, freqüentemente associados com as plantas produtoras de
carvão mencionadas acima. Pode-se imaginar, e isso é inteiramente consistente
com o estilo de vida dos anfíbios, que estas formas viveram entre as plantas
nos pântanos flutuantes nos quais foram soterrados.
A deposição carbonífera termina
junto com os carvões paleozóicos e muitas das grandes espécies de plantas carboníferas.
Parece não haver uma boa explicação para esta perda nas hipóteses Naturalista
ou Deísta/Teísta. Por que plantas que dominavam a paisagem, e obviamente eram
muito bem sucedidas, iriam repentinamente deixar de existir? De acordo com a
hipótese Criação/Dilúvio, esta perda pode ser explicada pela destruição do
habitat do mundo pré-diluviano no qual estas formas viviam e subseqüente
soterramento de seus restos por contínuo influxo de sedimentos.
O Permiano
O registro fóssil permiano contém
muitas das formas de invertebrados presentes nas rochas abaixo, mas a flora
reflete mudanças dramáticas. As principais extinções que marcam o fim das duas
divisões principais do Fanerozóico, o Permiano (marcando o fim do Paleozóico) e
o Cretáceo (marcando o fim do Mesozóico), apresentam mudanças dramáticas no
registro de plantas em camadas bem abaixo de onde começam as grandes mudanças
no registro animal. Porque isto foi assim, não está claro nas várias propostas
de explicação. As plantas do Permiano, que parecem ser muito mais adequadas
para clima seco do que as plantas produtoras de carvão do Carbonífero, são
chamadas de Flora Glossopteris. Esta flora consiste de árvores coníferas e
gimnospermas de diversas afinidades, a maioria das quais está atualmente extinta.
A diversidade do registro faunístico
decresce gradualmente, até próximo do fim do Permiano, quando quase todos os
invertebrados do Paleozóico desaparecem. Embora os números sejam controversos,
estima-se que 96% das espécies encontradas no Permiano não aparecem mais no
Triássico. Isto inclui invertebrados e vertebrados. Entre os vertebrados, 75%
das famílias de anfíbios e 80% das famílias de répteis desaparecem do registro.
Esta perda de tantos grupos taxonômicos é chamada de "Extinção
Permiana", e muitos divulgadores de ciência tentaram explicar esta perda
através de um evento catastrófico, tal como o impacto de um meteorito. A
dificuldade encontrada em todas estas tentativas é que o desaparecimento de
espécies continua através do Permiano ou, como no caso dos principais grupos de
plantas do Carbonífero, já havia ocorrido antes do início do Permiano. Se a
explicação correta é um dilúvio global, então é possível compreender o
desaparecimento de grupos taxonômicos, e não são necessárias explicações
fantasiosas.
O Mesozóico
As rochas mesozóicas são
caracterizadas por uma mudança dramática na biota. Inicialmente as plantas
tendem a ser similares às do Permiano. A maioria dos animais é diferente. Há
mais formas terrestres e rochas marinhas possuem peixes fósseis, cefalópodes,
bivalves e corais diferentes dos do Paleozóico.
O Triássico
As rochas do Triássico são
caracterizadas por camadas vermelhas, assim chamadas devido à presença
abundante de óxido de ferro, além de cinzas vulcânicas amplamente distribuídas.
Nestas rochas estão os restos de répteis fósseis e os primeiros fósseis de
mamíferos. As plantas são samambaias, fetos arborescentes, cicadáceas, ginkgos
e gimnospermas de muitos tipos. A flora Glossopteris do Permiano é substituída
pelo gênero Dicrodium do Triássico,
encontrado em todo lugar. Todos os tetrápodes dominantes, incluindo os
dinossauros e várias outras formas de répteis e mamíferos, aparecem primeiro
nas rochas triássicas. Muitos insetos são conhecidos no Triássico, incluindo
muitas espécies de libélulas. Formas marinhas incluem peixes, répteis marinhos
e a maioria dos grupos modernos de invertebrados, incluindo uma crescente
variedade de cefalópodes.
O Jurássico
Graças a Hollywood, o Jurássico é
provavelmente o mais conhecido dos períodos geológicos. As rochas jurássicas
contêm os restos dos maiores dinossauros que já viveram, incluindo os
saurópodes gigantes. As rochas marinhas contêm uma abundância de restos de
peixes, incluindo tubarões e raias e um crescente conjunto de cefalópodes, em
sua maioria amonitas. Os padrões de aparecimento e desaparecimento de amonitas
provêem o principal indicador estratigráfico para o Mesozóico. Este é um
aspecto que precisa ser estudado cuidadosamente, pois este padrão contém muita
informação útil para ajudar na reconstrução de processos sedimentares do
Mesozóico. Embora os que trabalham sob as hipóteses Naturalista ou
Deísta/Teísta aceitem que estes padrões sejam de origem evolutiva, os
aparecimentos e desaparecimento não parecem representar linhagens evolutivas. Assim,
os padrões podem conter outros tipos de informações compatíveis com a hipótese
Criação/Dilúvio, que nos permitiriam o discernimento de aspectos do mundo
antediluviano não acessíveis de outra forma. Plantas terrestres fósseis incluem
samambaias, coníferas, ginkgo e cicadáceas. Pequenos mamíferos estão presentes,
mas não são comuns. Ocasionalmente são encontrados restos fossilizados de aves,
incluindo o famoso Archaeopteryx.
O Cretáceo
O Cretáceo se inicia de forma não
auspiciosa e geralmente as rochas do Cretáceo Inferior apresentam os tipos de
fósseis encontrados nos estratos jurássicos. Em contraste com as rochas
vermelhas do Triássico, os estratos do Cretáceo incluem centenas de metros de
folhelhos negros, indicativos de áreas fonte bem diferentes daquelas do
Triássico.
No meio do período Cretáceo, ocorre
uma mudança dramática. Começa a aparecer o registro fóssil de plantas com
flores (angiospermas), e, no fim do Cretáceo, a maioria das principais famílias
de plantas com flores estão representadas por pólen, folhas, frutos e/ou
madeira. Esta introdução dramática de uma flora totalmente nova, chamada de um
"abominável mistério" por Darwin, é de grande significado. Em face
disto, o repentino aparecimento das angiospermas é uma explosão tão grande, no
âmbito das plantas, como foi a "Explosão Cambriana" no domínio dos
animais.
São numerosas as tentativas de
explicar esta questão dentro do modelo evolucionista. Uma destas, feita por
Daniel Axelrod, propôs que as plantas estivessem evoluindo em regiões montanhosas,
longe das regiões onde os fósseis estavam sendo preservados, e por isso não
temos o registro fóssil de sua evolução. Não é por acaso que esta explicação
compartilha muitos aspectos com as explicações propostas para a fauna cambriana
(i.e. não tinham partes duras para serem preservadas ou estavam evoluindo longe
das bacias deposicionais). Uma segunda defesa da hipótese evolucionista atribui
o desenvolvimento a mudanças evolutivas "graduais", asseverando que
as angiospermas são introduzidas lentamente no registro fóssil após um período
prolongado, sugerindo que tiveram tempo suficiente para "evoluir" a
partir da(s) primeira(s) forma(s). Esta defesa é semelhante à outra feita para
a Explosão Cambriana, sugerindo que aquelas formas animais apareceram lentamente
durante o Cambriano Inferior.
Há dificuldades fatais nestas duas
abordagens. As angiospermas são um grupo rico e diversificado, excedendo todas
as outras plantas terrestres hoje por vinte a um. Esta diversidade entra no
registro rapidamente, e requer uma explicação. É inconcebível, dadas as grandes
diferenças existentes entre as angiospermas, que todo espectro de informação
que representam pudesse ter se acumulado do nada durante um período infinito,
quanto mais em um curto intervalo de tempo, como afirmado. Além disto, os dados
sugerem que as plantas eram inteiramente funcionais e de aspecto completamente
moderno quando apareceram pela primeira vez, da mesma forma que vimos com os
invertebrados no Cambriano. Por exemplo, Tidwell relatou um ramo fóssil de
bordo (Acer) no Arenito Dakota em
Utah, que continha pólen, flores e sementes ligadas à madeira. O ramo foi
encontrado em rochas consideradas jurássicas, e posteriormente reclassificadas
como sendo do Cretáceo Inferior. O problema de haver fósseis que tem aparência
completamente moderna em estratos cretáceos persiste. Onde a evolução
aconteceu? Uma ciência peculiarmente revisora tem procurado aliviar o problema,
reclassificando os fósseis de plantas com flores cretáceas, e mesmo terciárias,
em grupos arcaicos. Pela mudança de nome para gêneros diferentes, ou mesmo
famílias diferentes, têm-se multiplicado infinitamente e sem necessidade os
gêneros de folhas e outras formas. Presume-se que, se uma folha de bordo é
encontrada no Cretáceo, deve ser uma coincidência que se pareça com uma folha
de bordo, porque como poderíamos ter o gênero Acer representado há 100 milhões de anos atrás? Assim, se eles
chamarem este fóssil de Protoacer ou Pseudoacer, pensa-se que isto resolve o
problema da origem repentina das angiospermas. Naturalmente não resolve.
Apenas a hipótese Criação/Dilúvio
pode explicar o aparecimento repentino de angiospermas sem recorrer a
reconstruções fantasiosas e elaboradas. E mesmo esta hipótese não explica com
facilidade porque as angiospermas não são encontradas abaixo dos estratos
cretáceos. Mas este aparente surgimento repentino de angiospermas é carregado
de dados, e pode nos ajudar na formulação de um modelo científico que explique
a distribuição de formas de vida na terra pré-diluviana, e os processos do
próprio dilúvio. O modelo deve levar em conta isto e usar estes dados no
desenvolvimento de uma visão da biota e da geografia pré-diluvianas que possa
explicar a ausência de fósseis de angiospermas abaixo do Cretáceo.
Os fósseis animais dos sedimentos
cretáceos passam por permutas com o aparecimento de novas formas, tais como os
bastantes discutidos Tyrannosaurus rex,
Triceratops e os dinossauros com bico
de pato que dominaram o Cretáceo Superior. Os poucos mamíferos cretáceos são
pequenos e constituem elementos excepcionais no registro. O ambiente marinho
cretáceo continua a ser dominado por peixes e moluscos, especialmente amonitas.
Durante o Mesozóico, os fósseis-guia, chave em sedimentos marinhos, são os
amonitas, cefalópodes espiralados relacionados com os nautilus modernos. Estas
formas alcançam seu zênite nos sedimentos do Cretáceo Superior. Nestas rochas
no centro dos Estados Unidos, mais de 50 intervalos estratigráficos são
definidos pelo que parecem ser espécies distintas de amonitas. Enquanto alguns
destes podem não ser espécies distintas, muitos dos morfotipos estão presentes
apenas por breves intervalos, e depois desaparecem do registro.
Quando as rochas cretáceas terminam,
outra transformação incompreensível acontece. Todos os dinossauros desaparecem
e, junto com eles, muitos outros répteis que não são dinossauros também não são
mais encontrados como fósseis. Nenhum dos amonitas vai além do Cretáceo. As
angiospermas, que surgiram antes, passam pela transição do Mesozóico para o Cenozóico
com bem poucas mudanças. Esta grande extinção tem sido ligada a muitas teorias
ricas e fantasiosas, tais como a colisão de meteoros, indigestão, o surgimento
dos mamíferos, etc. Mas nenhuma destas teorias faz justiça às evidências. Se um
impacto de meteoritos foi o evento final do Cretáceo, por que a maioria dos
dinossauros já estava morta? De fato não há matança que possa ser diretamente
atribuída a um evento que se pretende ter sido de magnitude indescritível e que
parece ter feito pouco além de espalhar uns poucos centímetros de poeira
enriquecida de irídio. E se um impacto foi a causa, por que não afetou as
angiospermas, e por que destruiu todos os amonitas, mas não outras formas
marinhas? Se as causas da extinção do fim do Cretáceo foram mamíferos, ou
"constipação", etc., então por que os amonitas morreram? Certamente
há lugar para uma catástrofe abrangente global que finalmente afetou o ambiente
no qual estas várias formas viviam e, como um evento em progresso, o fim do
Cretáceo marcou um conjunto de condições nos quais os amonitas e dinossauros
não podiam mais viver.
O Cenozóico
As rochas do Cenozóico incluem todos
os depósitos desde o Cretáceo até o presente. O Cenozóico é dividido em três
partes, de baixo para cima: o Paleogeno, o Neogeno e o Quaternário. Estas
rochas contêm os restos de uma fauna dominada pelos mamíferos, e registram uma
flora que faz a transição de plantas representadas no Cretáceo para plantas
específicas de várias regiões da terra atual. O registro marinho também inclui
formas que seriam familiares para nós hoje. Os depósitos cenozóicos são mais
locais e basinais do que os depósitos do Mesozóico ou Paleozóico. Restos de
mamíferos, especialmente dentes, são usados como marcadores estratigráficos.
Uma compreensão do registro cenozóico envolve ser capaz de explicar a notável
mudança de camadas de rochas amplamente distribuídas e fósseis-guia do
Paleozóico e Mesozóico, para as unidades de rocha e assembléias de fósseis
muito mais localizadas do Cenozóico.
Outra vez, considerar a hipótese
Criação/Dilúvio permite-nos explicar alguns dos detalhes que não são facilmente
explicados pelo Naturalismo ou Deísmo/Teísmo.
Um dilúvio global deve ter um fim em
algum ponto do registro nas rochas. Podemos esperar que o fim seja marcado por
padrões de drenagem que permanecem até o presente, e aspectos da flora e fauna
cada vez mais familiares. Um evento tão dramático como um dilúvio mundial deve
ter tido repercussões que duraram até bem depois da saída dos animais da arca.
Deste ponto de vista, o dilúvio deixou muitas bacias cheias de água, nas quais
sedimentos e restos de animais e plantas mortos e em decomposição continuaram a
se acumular durante algum tempo após o fim do dilúvio.
O repovoamento da terra com animais ocorreria
rapidamente, e as criaturas e plantas se expandiriam em territórios vagos
aparentemente sem fim. Variedades de plantas e animais nunca vistos antes na
terra poderiam agora se desenvolver, expressando informação genética que teria
se mantido não funcional nos genomas inativos de animais de um mundo diferente.
Seria de se esperar que o ambiente logo após um dilúvio mundial tivesse
condições ótimas para a seleção natural, incluindo nichos abertos, efeito
“gargalo” nas populações, efeito do fundador e isolamento geográfico, que
resultaram numa rápida proliferação de espécies para os muitos nichos vazios da
terra. Um exemplo claro da magnitude destes efeitos ocorreu nas Ilhas do Havaí,
onde os organismos foram capazes de se expandir sem as pressões competitivas
normais de predação e doença. Aqui possivelmente uma única espécie de Drosophila aparentemente se tornou
ancestral de mais de 600 espécies distintas de moscas das frutas. É importante
notar que ainda são Drosophila, e que
podemos apenas especular sobre o processo pelo qual elas se diferenciaram.
Embora o Cenozóico não tenha
terminado, o passado recente foi caracterizado por glaciações continentais no
Pleistoceno. Estes depósitos contêm flora e fauna que são geralmente
reconhecidas como indígenas. São interessantes os relatos de grande número de
paquidermes congelados em regiões árticas. Darwin calculou que um único casal
de elefantes poderia produzir um milhão de descendentes em menos do que mil
anos, de forma que isto não parece ser um problema para nenhum modelo.
Análise do Registro
O registro fóssil contém uma mistura
de informações. Alguns destes dados, por exemplo, parecem, ao nosso nível atual
de compreensão, favorecer idéias naturalistas das origens. Alguns destes dados
parecem apoiar o conceito de uma origem Divina Criativa para a vida na terra, e
um dilúvio global catastrófico. O método e o tempo não podem ser confiavelmente
deduzidos pelos métodos naturalistas da ciência, e devem ser aprendidos pelas
revelações do próprio Criador.
O registro fóssil exibe uma
progressão ordenada de formas, muito diferente da que se poderia propor para a
evolução sem um conhecimento prévio do registro. Também não é intuitivo o que
um dilúvio global acarretaria. Muitas partes do registro parecem exibir um padrão
de fósseis que sugerem que a terra pré-diluviana e o próprio dilúvio foram
eventos bem diferentes do que geralmente se acredita. Se o registro fóssil se
originou principalmente com o dilúvio, então se necessita de algum tipo de
explicação delimitada ecologicamente ou fisiograficamente.
Em estratos do Paleozóico Inferior,
os fósseis são organismos quase exclusivamente marinhos. Embora desde o início
haja uma grande diversidade, esta diversidade muda na medida em que subimos a
coluna. As mudanças são ordenadas e significativas. Tipos de plantas que
parecem viver sobre a água são abundantes nos estratos do Paleozóico Médio e
Superior. Tetrápodes associados com estas plantas podem também ter vivido sobre
o terreno formado pelas plantas flutuantes. As primeiras plantas e animais
verdadeiramente terrestres são encontrados no Permiano (Paleozóico Superior) ou
nos depósitos mesozóicos, depois que as plantas formadoras de carvão
desaparecem do registro. Estes dados são importantes para se chegar a um modelo
de mundo pré-diluviano. Grande parte do mundo que foi soterrado durante o
dilúvio já estava sob a água.
As formas marinhas do Mesozóico são
muito diferentes das formas paleozóicas. Depósitos terrestres com formas de
vida terrestre são o palco central. O aparecimento das angiospermas no Cretáceo
Médio é um evento que dificilmente se enquadra com as expectativas evolutivas,
e coloca limites severos e restrições importantes na construção de modelos para
qualquer hipótese. O extermínio de dinossauros terrestres e amonitas marinhos
quase simultaneamente obriga os modelos naturalistas a procurar explicações
catastróficas. Os criacionistas alegremente se disporiam a prover estas
explicações, se não tivessem que explicar onde os mamíferos e angiospermas
estavam escondidos quando os dinossauros estavam sendo soterrados. O zonamento
de amonitas no Mesozóico é outra oportunidade para os criacionistas coletarem
informações para utilizarem na construção de modelos. Por enquanto, deve ser
considerado outro desafio formidável para o modelo Criação/Dilúvio.
No Terciário os dinossauros não mais
aparecem no registro fóssil, mas as plantas com flores continuam, tornando-se,
ao longo do Terciário, cada vez mais específicas para as localidades onde são
encontradas hoje em dia. Da mesma forma, os mamíferos modernos não aparecem até
próximo ao fim do Terciário, em muitos grupos. Todos os grandes problemas para
o modelo Criação/Dilúvio devem ser considerados dados para a construção de
modelos. Isto sugere que, se queremos construir modelos, devemos tirar vantagem
dos desafios e trabalhar intensamente com eles para obter mais dados.
Estes são os dados da Paleontologia
que os construtores de modelos devem ter em mãos para reconstruir o mundo que
havia antes do dilúvio. Este empreendimento vale a pena? É necessário?
Considerações Finais
Como podemos acomodar o registro
paleontológico com a Bíblia? Que podemos fazer com os sérios desafios
apresentados à nossa fé por alguns aspectos do registro fóssil? O que podemos fazer
para tornar conhecidos os sérios problemas das hipóteses Naturalista e
Deísta/Teísta? É suficiente dizer que “A Bíblia diz assim, e eu creio nisto, e
isto é suficiente para mim?” Devemos continuar explorando a ciência, sabendo
que podemos ser levados a conclusões que não são compatíveis com a nossa fé?
Estas questões são sérias e dignas de serem estudadas e consideradas
cuidadosamente.
Se nossa abordagem da ciência é
adequada, podemos reconhecer que ainda há muitas perguntas não respondidas em
todos os pontos de vista, e não devemos temer uma investigação mais profunda.
Na ciência os dados não são tudo. Mas devemos reconhecer que a visão de origens
apresentada na Bíblia é clara acerca da Criação. As plantas foram feitas no
terceiro dia, os animais aquáticos e voadores foram criados no quinto dia e os
animais terrestres, incluindo a espécie humana, foram criados no sexto dia,
três tardes e manhãs após as plantas. A Bíblia também é razoavelmente clara
sobre os eventos significativos para a fossilização destas formas de vida que
aconteceu desde então. Há muitas coisas não reveladas sobre o mundo
antediluviano. Se soubéssemos mais, penso que poderíamos responder muitas das
questões que, no momento, estão abertas ou que nos causam perplexidade.
Deveríamos estar tentando resolver estas questões? Podemos continuar a esconder
nossa cabeça na areia quando questões de paleontologia aparecem?
Nós tradicionalmente ensinamos e
pensamos que o mundo físico era um componente indispensável da totalidade da
revelação de Deus para nós. Versos tais como Romanos 1:20, Salmo 19:1-4 e
muitos outros tornam isto claro. Se mantivermos esta abordagem holística da
Revelação, seria inconsistente ignorar um enorme componente deste testemunho no
registro fóssil. Deveríamos ser mais agressivos em nossos esforços para
procurar a harmonia com a Revelação na Bíblia, usando os princípios colocados
pelas Escrituras como um filtro para testar as idéias. Penso que isto não é uma
opção, mas um mandato da mais alta ordem. Se escolhermos ignorar os esforços
para encontrar harmonia entre a Bíblia e a paleontologia, poderemos perder
aquela grande oportunidade de receber a revelação de Deus através da terra. O
salmista escreve:
"Escutarei o que Deus, o Senhor, disser,
pois falará de paz ao seu povo e aos seus santos; e que jamais caiam em
insensatez. Próxima está a sua salvação dos que o temem, para que a glória
assista em nossa terra. Encontraram-se a graça e a verdade, a justiça e a paz
se beijaram. Da terra brota a verdade,
dos céus a justiça baixa o seu olhar. Também
o Senhor dará o que é bom, e a nossa terra produzirá o seu fruto. A justiça
irá adiante dele, cujas pegadas ela transforma em caminhos”.Salmo 85:8-13
Devemos estar preparados e abertos
para receber aquela Verdade. A questão não é se podemos crer no que Deus disse
na Bíblia. Esta questão precisa ser previamente resolvida com base em nossa fé.
Pois nos é dito especificamente que:
"Pela fé
entendemos que foi o universo formado pela palavra de Deus, de maneira que o
visível veio a existir das coisas que não aparecem. [ ... ] De fato, sem fé é
impossível agradar a Deus, porquanto é necessário que aquele que se aproxima de
Deus creia que ele existe e que se torna galardoador dos que o buscam”. Hebreus
11:3, 6
Mas iremos aplicar com sucesso esta fé
para problemas reais no mundo físico? É aqui que podemos fazer a diferença, se
escolhermos esta opção.
Penso que nossa visão da revelação
no mundo físico, como um componente da revelação total de Deus para nós, exige
que busquemos alcançar um nível satisfatório de compreensão do mundo físico.
Não devemos “servir este princípio apenas com os lábios” sem implementar
esforços sérios para buscar a compreensão que cremos que está aí. Estou seguro
de que Deus não quer que esta revelação seja feita de um modo que venha a
exaltar o homem. Mas Deus pode confiar numa mente preparada e numa vida
comprometida. Com certeza o objetivo deste trabalho deve ser aquele que Deus já
estabeleceu, que:
"Os céus proclamam a glória de Deus, e o firmamento anuncia as obras das
suas mãos. Um dia discursa a outro dia, e uma noite revela conhecimento a outra
noite. Não há linguagem, nem há palavras, e deles não se ouve nenhum som”.Salmo
19:1-3.
E:
“Os
atributos invisíveis de Deus, assim o seu eterno poder, como também a sua
própria divindade, claramente se reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo
percebidos por meio das coisas que foram criadas. Tais homens são, por isso,
indesculpáveis”; Rom. 1:20.
Espero, com grande expectativa, o
tempo quando estas novas revelações serão recebidas de forma mais completa.
Enquanto isso, podemos começar a
ajuntar observações do registro geológico, que possam nos ajudar na tentativa
de montar um modelo preliminar do que pode ter ocorrido durante a história
passada desta terra.
Espero que este modelo ofereça a
oportunidade para se fazer progresso na harmonização de dados da ciência com as
informações que nos foram dadas na Bíblia.
Notas
1. Simoes, M.G.; Kowalewski, M.;
Torello, F.F.; Anelli, L.E. Long-term time-averaging despite abrupt burial:
Paleozoic [bioturbation?] obrution deposits from epeiric settings on Parana
basin, Brazil. GSA 1998.
2. Butterfield, N.J., and R.H.
Rainbird. 1998. Diverse organic-welled fossils, including "possible
dinoflagellates," from the early Neoproterozoic of arctic Canada. Geology
26 (November): 963.
3. Citado em: Henry Margenau and Roy
Abraham Varghese, eds., *Cosmos, Bios, Theos* (La Salle, IL: Open Court
Publishing, 1992), 142
4.
Trabalho de Chadwick e trabalho de Morris.
5. von Braun, Wernher. A citação foi retirada de uma entrevista, original em
“Applied Christianity” da revista Bible Science Newsletter de maio, 1974, p. 8
6. Gould, Stephen J. 1989. Wonderful Life. W.W. Norton & Company, New York. 347 pp.